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Uma reflexão como é vista a Trindade nos dias de hoje.

Catequese com Adultos: os riscos no discurso trinitário
Falar do Deus Trindade requer, antes de tudo, o obséquio da fé.
Por Diac. José Barbosa de Miranda
Brasília, 29 de Maio de 2015 (ZENIT.org)
No artigo anterior comentávamos sobre a Solenidade do Pentecostes, quando vimos no discurso de Pedro a manifestação publica da Igreja, restabelecendo a unidade perdida na torre de Babel, mas, pela ação do Espírito Santo, todos se entendem, têm os canais para possuir a vida eterna pela conversão e remissão. Agora, depois do milagre de Pentecostes, a Igreja nos apresenta a Solenidade da Santíssima Trindade. É um mistério que nem o grande Santo Agostinho conseguiu entender, aceitando a linguagem da fé, crendo no Deus Uno e Trino.
O DISCURSO TRINITÁRIO, NO MUNDO MODERNO, PODE NOS LEVAR A TRÊS RISCOS
O primeiro é querer atualizar o dogma trinitário no conceito sócio-antropológico, levando-o ao questionamento homem-homem e reduzindo a divindade na dimensão puramente humana (antropológica), esquecendo-se da sua origem transcendente para um reducionismo de Deus. Esse raciocínio parte da humanização do Filho desvinculando-o da sua origem divina. Por exemplo: na cruz só ficou o homem, separando as duas naturezas do Filho para sacrificar somente a humana. Mas, como as Pessoas trinitárias são um só Deus, com a mesma essência e mesma substância, não somos capazes de compreender o mistério que não foi revelado pelo Filho, por isso “O sofrimento do Pai corresponde ao sofrimento do Filho, ‘que me amou e entregou a si mesmo por mim’ (Gl 2,20). Deus sofre na cruz como Pai que oferece, como Filho que se oferece, como Espírito que é o amor permanente de Jesus sofredor. A cruz é a história do amor trinitário de Deus pelo mundo: um amor que não se limita a suportar o sofrimento, mas o escolhe”[1].
Sabemos que o mistério trinitário não se encaixa na inteligência do homem, pois Deus não é criação humana, se assim o fosse seria uma invenção humana como são os ídolos.
O segundo risco, predominante em alguns seguimentos cristãos hodiernos, é o de isolar as Pessoas Trinitárias: a era do Pai, a do Filho e a do Espírito Santo. Alguém já disse: “estamos vivendo o tempo do Espírito Santo”. Quebra-se a unidade para reforçar a mensagem reducionista. Uns querem desassociar a ação trinitária para reforçar o sectarismo pentecostal e chegam a pinçar o Espirito Santo da unidade Trindade. Alguns já desejaram crucificar o Espírito Santo no lugar de Jesus.  
A dificuldade de se falar sobre a Trindade não está na Teologia Dogmática, mas nos “exegetas dos últimos tempos”.
Não podemos querer que o Deus Trino desça a nós para esquadrinhá-lo à nossa inteligência, mas que a nossa compreensão seja emoldurada a Ele. O dogma contém a unidade nas Pessoas que está além da nossa razão, embora a razão nos ajude a procurá-Lo. “O dogma contém o mistério de Deus e se fosse interpretado só com a razão seria necessariamente profanado”[2].
É por isso que a razão se escandaliza diante da unidade na Trindade. O mistério é o desenvolvimento histórico da economia trinitária para ser proclamado com o obséquio da fé.
O terceiro risco está na linguagem. Os símbolos usados na linguagem nem sempre refletem o que designam. É a pobreza da linguagem humana para se referir a Deus. Daí se apodera da filosofia para querer explicar o mistério trinitário que nem Cristo nem os apóstolos dele se preocuparam; “Nem Jesus nem os apóstolos apresentaram uma doutrina com formulação clara da distinção das Três Pessoas na unidade da Natureza Única de Deus. Aliás, nem mesmo as palavras como ‘pessoa’, ‘substância’ ou ‘natureza’ são usadas nem pelo divino Mestre nem por seus discípulos imediatos”[3].

AS DIFICULDADES PARA ENTENDER DEUS-PAI NA UNIDADE TRINITÁRIA
Sem entrar nos conceitos bíblicos sobre a paternidade de Deus, hoje a dificuldade se baseia principalmente:
  1. Referência na unidade familiar que se desintegra com os apelos hodiernos: questionamento da autoridade paterna; a renúncia da paternidade que gera mas não assume; a disputa de espaços e poder no núcleo familiar. O mal hodierno que deseja mudar o princípio criativo de Deus, descaracterizando a união paterna-materna com missões específicas[4].
  2. As feridas sociais: marginalização dos pobres; exclusão racial; abandono de órfãos; trabalhos escravos, exploração infantil.
  3. Má distribuição de rendas: concentração de riquezas e poder; ampliação de grupos que nada têm para a sua sobrevivência. Dir-se-ia que a dificuldade para compreender Deus-Pai está na família. Há uma cultura atéia que se quer implantar: destrói-se a família para destruir Deus.

Falar de Deus Trindade requer, antes de tudo, o obséquio da fé. A dimensão do amor de Deus exige do homem e da mulher um desapego e renúncia dos conceitos mal elaborados. O que vemos hoje são imagens ofuscadas como árvores que se movem. Precisamos dos ícones para auxiliar a comunicação, mas não colocá-los como verdades conclusivas.

UMA CONCLUSÃO DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
No homem podemos considerar três coisas: existe em sua natureza, no seu intelecto, no seu amor, mas não constituem algo único porque seu entender não é seu ser nem seu amar e nele subsiste apenas a natureza humana. Em Deus, todavia, são o mesmo o ser, o inteligir e o amar. Deus existe em sua natureza, em seu intelecto, em seu amor como uno, mas cada um é subsistente em si mesmo. Assim, em Deus há três pessoas, a saber, o Pai, e o Filho e o Espírito Santo, mas formam uma unidade de amor, de ser, de inteligência[5].
Isto requer de nossa inteligência aceitar que o Pai, o Filho, o Espirito Santo são três pessoas que subsistem em si mesmo, com sua essência divina e com subsistência completa. Nada há que acrescentar.
           

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