Pular para o conteúdo principal

Imã Jawad Al-Khoei: o fanatismo religioso não está na religião, mas na ignorância a respeito dela

Riccardi: com a globalização, ou há conflito ou há amizade

Por Sergio Mora
ROMA, 25 de Março de 2015 (Zenit.org) - Aconteceu nesta terça-feira, na sala de eventos da Comunidade de Santo Egídio em Roma, um congresso que reuniu durante todo o dia representantes da Igreja católica e das instituições muçulmanas xiitas. Os participantes abordaram a "responsabilidade dos crentes em um mundo global e plural" e o diálogo para construir a paz num momento histórico marcado por numerosas crises e conflitos no panorama internacional.
Em conversa com ZENIT, o professor Riccardi declarou: “Acredito que precisamos nos descobrir entre mundos diferentes. Hoje em dia, ou temos a amizade ou o conflito. A ignorância não é mais possível”.
Em suas palavras finais na conferência, ele disse que “um líder religioso que prega a violência não é nem líder nem religioso” e acrescentou que “as religiões que não sabem enfrentar a globalização estão destinadas à irrelevância ou ao fanatismo”, porque hoje é necessário entrar na comunicação global. Ele observou ainda que, com a globalização, o mundo não se tornou mais ecumênico, de paz e de justiça, e sim mais livre de fronteiras para a violência.
“O que é um católico para um xiita? Quem é um xiita para um católico?”, interrogou Riccardi, contando que, no congresso, uma jornalista perguntou o porquê deste encontro com os xiitas: “Por acaso há imigrantes xiitas aqui?”. Ela não entendeu que, com a globalização, “ou há conflito ou há amizade”.
O fundador da Comunidade de Santo Egídio disse também que o “homem global tem de ser mais religioso, mais crente que o homem da Idade Média”, porque a nossa sociedade global tem uma grande necessidade da religião e de valores espirituais. “O diálogo faz a ecologia do mundo. Para que serve o diálogo? Poderíamos nos perguntar também para que serve a oração. Semeamos hoje e colhemos daqui a cinco, dez ou mais anos. Eu gostaria que este diálogo entre católicos e xiitas continuasse de modo oportuno. Este foi um primeiro encontro. O encontro não nos deixa nunca iguais; ele nos melhora sempre”.
Por sua vez, o imã Jawad Al-Khoei recordou que estiveram presentes no congresso os ulemás de diversas áreas geográficas, todos eles com grande influência na sociedade, propondo ideias muito importantes baseadas no pensamento dos xiitas. Ele citou as palavras do cardeal Jean Louis Tauran: “Querer impor-se ao outro não funciona”. O imã asseverou que os xiitas não querem impor uma constrição na leitura da religião, o que seria ignorância. Os líderes religiosos são acusados de ser a causa da constrição, do terrorismo, quando, na verdade, eles têm que fazer parte da solução: “Nós temos que dar esperança, otimismo, ajudar a entender que o problema não está na religião, mas na ignorância a respeito dela”. Ele considerou também que não se pode exigir um Estado religioso.
“Há muitas coisas em comum entre xiitas e católicos, como o papel da razão, a espiritualidade e a moral. Neste congresso, enfatizamos a importância da dignidade humana e fizemos um apelo sobre a importância de se tutelarem os valores e princípios morais em todos os níveis”.
O congresso foi organizado conjuntamente pela Comunidade de Santo Egídio e pela Fundação internacional Imã Al-Khoei, associada à máxima autoridade religiosa do islamismo xiita iraquiano, o grande aiatolá Ali Sistani.
Participaram do encontro dignitários religiosos de alto escalão provenientes do Irã, Iraque, Líbano, Arábia Saudita, Bahrein e Kuwait, além de eminentes autoridades católicas como o cardeal Marx, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia, o cardeal Touran, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, e dom Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Família. Junto com outros representantes católicos, eles abordaram a relação entre Estado e religião, o papel dos crentes na sociedade atual e as perspectivas de diálogo e de colaboração para o futuro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".

Hoje quero fazer memória a um grande herói da Históra do Brasil, o frei Giorgio Callegari. Gosto muito do monumento ao soldado desconhecido, porque muitos heróis brasileiros estão no anonimato, com suas tarefas realizadas na conquista da democracia que experimentamos. Mas é preciso exaltar estas personalidades cheias de vida e disposição em transformar o nosso país numa verdadeira nação livre. Posso dizer, pela convivência que tive, que hoje certamente ele estaria incomodado com as condições em que se encontra grande parte da população brasileira,  pressionando dirigentes e organizando movimentos para alcançar conquistas ainda maiores, para melhorar suas condições de vida. Não me lembro bem o ano em que nos conhecemos, deve ter sido entre 1968 e 1970, talvez um pouco antes. Eu era estudante secundarista, e já participava do movimento estudantil em Pinheiros (Casa do estudante pinheirense - hoje extinta), e diretamente no movimento de massa, sem estar organizado em alguma escola,