27.11.2014
O significado do Encontro Mundial
de Movimentos Populares
Adital
Neste artigo - o primeiro de uma série - farei algumas considerações e reflexões
sobre o significado do Encontro Mundial
de Movimentos Populares (EMMP), que
foi promovido - a pedido do Papa
Francisco - pelo Pontifício Conselho Justiça e
Paz, em colaboração com a
Pontifícia Academia das Ciências Sociais e que aconteceu
em Roma, entre os dias
27 e 29 de outubro passado. Em outros artigos (não
necessariamente na sequência
cronológica), destacarei
os pontos mais marcantes
do Discurso do Papa aos participantes do
Encontro e da Carta Final
do Encontro,
que são
luzes para a nossa militância nas Pastorais Sociais
e nos Movimentos Populares.
Qual é, pois, o
significado desse Encontro? Com certeza, ele representa uma verdadeira
revolução na Igreja, uma
"revolução
evangélica” radical, uma
clara volta às fontes,
ou seja, uma volta ao seguimento de Jesus de Nazaré, que -
ainda no seio de sua
mãe Maria - foi "morador de rua” e que nasceu na manjedoura de Belém
como
"sem-teto”.
"Não havia lugar para eles dentro de casa” (Lc 2,7).
Na história da
Igreja, já houve Papas que promoveram Encontros com cientistas,
com acadêmicos,
com industriais ou empresários ditos "católicos” e outras categorias
de
pessoas, mas nunca um Papa
que tenha promovido
um Encontro Mundial de
Movimentos Populares (não de Movimentos
Eclesiais). É de ficar boquiaberto!
Acolhendo os
participantes do Encontro, o Papa Francisco, com toda fraternura,
diz: "eu
estou contente por estar no meio de vocês. Aliás, vou lhes fazer uma
confidência: é a primeira vez que eu desço aqui (na Aula Velha do Sínodo),
nunca
tinha vindo. Como lhes dizia, tenho muita alegria e lhes dou calorosas
boas-vindas.
Obrigado, por terem aceitado este convite para debater tantos
graves problemas
sociais que afligem o mundo hoje, vocês que sofrem em carne
própria a
desigualdade e a exclusão”.
De maneira clara,
Francisco afirma: "este Encontro de Movimentos Populares é
um sinal, é um
grande sinal: vocês vieram colocar na presença de Deus, da Igreja,
dos Povos, uma realidade muitas vezes
silenciada. Os pobres não só padecem a
injustiça, mas também lutam contra ela!”.
Para quem é Igreja e
ama a Igreja, doe muito saber que existem dioceses ou
arquidioceses que não
deram a mínima para esse Encontro e que não publicaram,
em seus meios de
comunicação, uma palavra sequer sobre o acontecimento. Nestes
dias, conversando
com um padre,
percebi claramente que nem
sabia que o Encontro
tinha acontecido. Não dá para entender! Essa não é a Igreja que Jesus quer!
Essa
não é a minha Igreja!
O Papa Francisco -
como Jesus de Nazaré - tomou, com coragem profética e sem
nenhuma ambiguidade,
o partido dos pobres, que lutam pela justiça, pelos direitos
humanos e pelos
direitos da irmã mãe Terra. Ele fez a Opção pelos Pobres, para
- a partir deles
e junto com eles - anunciar a todos e a todas a Boa-Notícia de um
mundo novo,
que à luz da fé é o Reino de Deus. Tornou-se próximo e solidário com
todos os excluídos e excluídas e com todos os descartados
e descartadas da sociedade.
Ah, se nós, que somos
a Igreja (comunidades, paróquias, dioceses) entendêssemos
o recado que, com
tanta fraternura, nos vem do nosso irmão Francisco! Como
seríamos diferentes! Teríamos outras preocupações! No lugar de nos preocupar
somente com a estrutura interna da Igreja, com uma Igreja de grandes eventos,
com uma
Igreja de templos suntuosos, com uma Igreja triunfalista e clerical, com
uma
Igreja que quer se impor pelo poder e pela ostentação, seríamos uma
Igreja
simples, despojada, inserida no meio dos pobres - formando Comunidades
de Base
- e aliada aos Movimentos Populares e a todos aqueles e aquelas -
entidades e
pessoas - que lutam pela justiça e pelos direitos humanos e
ambientais (direitos
da irmã mãe Terra)
O nosso irmão
Francisco nos ensina que - em nossas comunidades, paróquias e dioceses
- só
podemos fazer pastoral social e promover as diversas pastorais sociais,
necessárias para responder cristãmente aos desafios do mundo de hoje (os apelos
de Deus para nós) na proximidade e solidariedade, ou seja, na entranhada aliança
com os Movimentos
Populares, respeitando e valorizando sua identidade e suas
diferentes
manifestações culturais e religiosas.
Precisamos mergulhar,
sem medo e com muito amor, no mundo dos pobres,
dos excluídos e excluídas, dos
descartados e descartadas da sociedade, que
são nossos irmãos e irmãs, para -
sempre a partir deles e junto com eles -
abrirmos caminhos novos, que levem a
mudanças estruturais e a uma
sociedade mais justa, mais fraterna e mais de
acordo com o projeto de
Jesus de Nazaré, que é o Reino de Deus no mundo.
mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 26 de
novembro de 2014
Fr. Marcos Sassatelli
Frade dominicano. Doutor em
Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), Professor aposentado de
Filosofia da UFG
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