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Lobos e cordeiros nos ataques especulativos à Petrobras


26 DE MARÇO DE 2014 - 20H27 

Já que não há no horizonte fatores capazes de provocar a chamada 'tempestade perfeita', resta à oposição fazer tempestade em copo d'água com a refinaria de Pasadena


Por Helena Sthephanowitz*


Mesmo com um noticiário político adverso, explorando ou especulando sobre a participação de Dilma Rousseff no episódio da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, as ações da Petrobras registram alta nas bolsas de valores, resultado de uma procura maior pelo papel.

Alguns lobos do mercado espalharam o boato de que as ações haviam subido porque uma pesquisa do Ibope sobre a corrida presidencial iria mostrar queda na diferença entre as intenções de votos de Dilma e dos candidatos da oposição. Uma versão dizia que Aécio Neves teria subido 8 pontos, outra versão dizia que a presidenta teria caído alguma coisa, enquanto os dois candidatos de oposição teriam subido, sem especificar números.

Provocou desconfiança essa versão de que profissionais de mercado experientes fariam um movimento brusco no mercado por um boato de uma pesquisa que nem sequer traria resultados tão favoráveis assim à oposição. Era até possível que os cordeiros do mercado (ou seja, os mais ingênuos e menos experientes) se impressionassem com os boatos. Mas até isso gerou desconfiança.

Quando as bolsas não estão aquecidas, como é o momento atual, é raro haver um efeito de "estouro de manada", quando todos saem comprando ações. É mais comum haver esse efeito ao contrário, quando os cordeiros saem vendendo apressadamente diante de um boato de que as ações vão cair.

Na noite de quinta-feira (20), após o fim do pregão, a pesquisa Ibope foi divulgada mostrando todos os candidatos estáveis em relação à pesquisa anterior, persistindo o amplo favoritismo da atual presidenta. Boatos frustrados.

Agora pensemos. Se de fato as cotações tivessem subido por conta desses boatos, deveriam ter caído no dia seguinte, com os números da pesquisa eleitoral já conhecidos, e estabilizar em patamares menores logo em seguida.

De fato, o pregão de sexta-feira abriu com as ações caindo quase o tanto que subiram na véspera. Mas logo em seguida o pregão virou para recuperar a queda e fechar em alta de 0,21%.

Moral da história: muito provavelmente os cordeiros que haviam acreditado no boato saíram vendendo atabalhoadamente, assim que abriu o pregão, fazendo a cotação cair logo cedo. E muito provavelmente os lobos – que espalharam os boatos e já tinham planos de comprar mais ações na sexta-feira, como vinham fazendo durante a semana inteira –, aproveitaram-se do susto dos cordeiros para comprar mais barato.

Pausa para uma questão. Afinal, o que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) andou prometendo ao mercado financeiro para que eles fiquem "lambendo os beiços" com as estatais federais? Seria fazer alguma cortesia com o chapéu do patrimônio público do povo, como ocorreu com a privatização da Vale a preço de banana?

Se não for isso, não há motivo de excitação com o tucano. Afinal, analistas de investimentos são praticamente unânimes em prever um futuro brilhante para a Petrobras nos próximos anos em função das reservas de petróleo invejáveis que tem e do cronograma de investimentos que está em curso para mais do que dobrar a produção até 2020.

Para quem tem planos de obter retorno do investimento a médio prazo, as ações da Petrobras atualmente estão sendo consideradas baratas. Só que requer paciência para esperar os próximos anos para realizar um lucro significativo, justamente por a empresa estar investindo muito agora e pagando menos dividendos no curto prazo. Especuladores que giram os investimentos no curto prazo não têm esse perfil, e deixam para investir em ações da Petrobras mais adiante, quando os investimentos estiverem mais próximos de produzir resultados polpudos.

Voltando aos lobos e cordeiros, convenhamos que, se as pesquisas eleitorais fossem tão determinantes assim nas cotações, os institutos seriam contratados diariamente pelos profissionais do mercado financeiro para tomarem suas decisões.

Outro aspecto especulativo já não é mais no mercado financeiro e sim político. Já que não há no horizonte fatores capazes de provocar a chamada "tempestade perfeita" na economia do país para desestabilizar a popularidade da presidenta, resta à oposição fazer tempestade em copo d'água com a refinaria de Pasadena.

Apesar de boa parte das informações sobre a compra ser bastante conhecida, há um enorme esforço na mídia oposicionista para desinformar em vez de esclarecer. O Jornal Nacional omitiu informações da entrevista dada pelo ex-presidente da empresa Sérgio Gabrielli, preferindo fazer intrigas.

Há poucas dúvidas quanto ao valor justo da compra em 2006 e da decisão do investimento ser acertada para a realidade da época, inclusive com o testemunho de megaempresários do setor privado que faziam parte do Conselho de Administração da empresa e aprovaram por unanimidade.

Se restam dúvidas é sobre falha na análise de risco de cláusulas que não foram advertidas ao conselho e vieram a trazer custos maiores do que o previsto, decorrentes da ação judicial posterior. E há dúvidas também se houve dolo por parte de algum diretor ou funcionário. Para isso já há uma auditoria aberta no Tribunal de Contas da União e um procedimento investigativo no Ministério Público Federal desde 2013.

O resto é ataque especulativo, mais uma vez apostando no desconhecimento do público sobre o tema, sobretudo naquela parcela da população sempre disposta a reproduzir as mensagens da chamada grande mídia.

*Colunista do Rede Brasil Atual

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