De nada vale o ouro ao fim da tarde



Conquistas obtidas tardiamente
soam como sinos de lata,
não propagam.

A idade puxa a idade
e repentinamente
separamos
o que ainda
podemos 
fazer,
e o que
não.

Redimensionamos
a vida
segundo
parâmetros
imediatos
pouco
ousados.

Ter um carro?
Para quê?
Um novo emprego?
Fazer um financiamento?
Para qual projeto?
Porque tudo
tem que ser 
rápido,
rapidíssimo.

Não há mais tempo
de espera.
Estamos no aguardo
da consumação.

E cada dia
é o último!

Cada dia
reconstrói
uma
história já
conhecida.

Missão realizada,
meta alcançada.

Caminho até o Pórtico do Tempo...

Bato à porta:

- Alguém aí?

 Bondade Suprema
a sustentar-me
para além tempo
como prêmio (?)
como castigo (?)
como meta oculta (?)
nunca pronta.

Ingrata sensação
de ausência de sabor,
e as riquezas
a beleza
os prazeres
despedem-se
distantes.

A luta?

Sim, a luta...
vamos manter
o perfil,
a estátua,
a ferida 
aberta.

Por ora
quero
debruçar-me
sobre 
este
fim de tarde
odiando
o Sol
por me deixar.

Por ora
quero
reunir
as forças
para
uma íntima
oração
esquecida
em um
quarto


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