Não há ocasião melhor para nada fazer, do que um domingo à tarde.
É tão abundante este nada a fazer, que se acaba nem fazendo o que não se faria.
Não durmo como quereria porque seria dormir demais, só dormir, e isto seria muito nada por se fazer, quando se deve fazer pouco.
Não como muito, porque é muito alimento para o nada do dia, muito exercício estomacal para nada de exercício.
Visito parentes distantes, porque é um momento pouco comum, quase nada a ser feito.
Beijo, mas beijo o suficiente, porque o sábado, a semana inteira beijei, e embora não canse de beijar, é beijo demais para o pouco a se fazer também no domingo.
Vou à missa e rezo.
Ali descubro o pouco que tenho feito a Deus durante os dias da vida, e rendo-lhe minha homenagem e gratidão, o pouco que faço, quase nada, para aquele que diuturnamente cuida de mim escondido.
Faço no domingo este muito pouco por Ele, quase nada.
Giro os canais da TV e nada satisfaz, tudo em desacordo com o nada em que estou.
Nada combina com o nada do domingo.
Vou preparar-me para a semana, e penso no amanhã, mas penso pouco e a conta gotas, porque ainda não é amanhã, e me retiraria do nada em que estou submerso.
Domingo é para a cama assim como a segunda é para o trabalho.
Domingo não se trabalha, não se faz nada, quase nada, nada mesmo.
Abro a geladeira em busca de algo, e não me satisfaço porque não há algo, há o nada para se comer e beber.
Que estou fazendo, que alteração, que influxo, retardamento é este do domingo.
Não sei, nem me interessa saber, para não pensar muito no nada que quase estou fazendo, de tão pouco.
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