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De repente, não mais que de repente, o SONETO DA SEPARAÇÃO

19 DE OUTUBRO DE 2012 - 18H00 
Vinicius de Moraes
Manuscrito do poema e Vinicius de Moraes

Soneto de separação


Por Vinicius de Moraes


De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. 

De repente da calma fez-se o vento 
Que dos olhos desfez a última chama 
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama. 

De repente, não mais que de repente 
Fez-se de triste o que se fez amante 
E de sozinho o que se fez contente. 

Fez-se do amigo próximo o distante 
Fez-se da vida uma aventura errante 
De repente, não mais que de repente. 

 
Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938.

 
De Livro de sonetos. Rio de Janeiro, Cia das Letras, Rio de Janeiro, 2009 (1ª edição: 1957)
 

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