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10 conselhos de Carlos Drummond de Andrade a um escritor iniciante

Retirei no blogue Poolts Eder Bruno, pela importância que este texto oferece de se conhecer mais intimamente o pensamento de Carlos Drummond de Andrade sobre ética, a arte de escrever, originalidade e banalidade, a relação escrita/vida, visão crítica da obra,  talento e genialidade, coerência e ambiguidade, e outras coisitas mais.




Trechos da crônica
 "A um jovem", publicada em A bolsa e a vida (1962):
1. Não acredite em originalidade, é claro. Mas não vá acreditar tampouco na 
banalidade, que é a originalidade de todo mundo.

2. Não fique baboso se lhe disserem que seu novo livro é melhor que o anterior. 
Quer dizer que o anterior não era bom. Mas se disserem que seu livro é pior que o 
anterior, pode ser que falem verdade.

3. Procure fazer com que seu talento não melindre o de seus companheiros. 
Todos têm direito à presunção de genialidade exclusiva.

4. Aplique-se a não sofrer com o êxito de seu companheiro, admitindo embora 
que ele sofra com o de você. Por egoísmo, poupe-se qualquer espécie de sofrimento.

5. Sua vaidade assume formas tão sutis que chega a confundir-se com modéstia. 
Faça um teste: proceda conscientemente como vaidoso, e verá como se sente à vontade.

6. Opinião duradoura é a que se mantém válida por três meses. Não exija maior 
coerência dos outros nem se sinta obrigado intelectualmente a tanto.

7. Procure não mentir, a não ser nos casos indicados pela polidez ou pela misericórdia. 
É arte que exige grande refinamento, e você será apanhado daqui a dez anos, 
se ficar famoso; se não ficar, não terá valido a pena.

8. Se sentir propensão para o gang literário, instale-se no seio de uma geração e ataque. 
Não há polícia para esse gênero de atividade. 
O castigo são os companheiros e depois o tédio.

9. Evite disputar prêmios literários. O pior que pode acontecer é você ganha-los,
 conferidos por juízes que o seu senso crítico jamais premiaria.

10. Leia muito e esqueça o mais que puder. Só escreva quando de todo não 
puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar.

Fonte: Michel Laub

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