CIDADÃO MAL FORMADO É CALDO DE CULTURA PARA O TOTALITARISMO E CORRUPÇÃO INSTITUCIONAL


Impressionante a clareza de visão do autor. Matéria obtida do blog luso-brasileiro. Interessante distinção entre ensino e educação.
Domingo, 17 de Junho de 2012
18 de setembro de 2009 (atualizado em 19/05/2012)


A formação do cidadão, no Brasil, é uma das piores do mundo. Não adianta ficar pondo a culpa nas escolas ditas “de ensino superior”, se o ensino fundamental e o médio são de péssima qualidade. Crianças, mal educadas e mal ensinadas, passam de ano como se a finalidade da escola fosse apenas exarar um certificado ao final dos cursos. O sistema educacional em vigor é equivocado e criminosamente mantido por uma seara acadêmica de professores mal preparados, mal pagos, estressados, sem segurança funcional e com alunos que passam de ano com aproveitamento ruim e abaixo do que se poderia conceber como nível de corte para isso.


A educação, quase sempre não recebida em casa ou na escola, favorece o crime, o uso de drogas, a rebeldia contra os valores morais e civilizacionais cristãos e estabelece condutas de agressão e desrespeito aos semelhantes. A competência profissional não é o escopo e o mercado de trabalho por si só não consegue melhorar o nível da oferta de mão de obra qualificada. A sensação que se tem, é que a ignorância, a incompetência, a imoralidade, e a desonra são cultivadas, hoje em dia, como espécies de ‘virtudes’ republicanas e sinais de ‘esperteza’ e inteligência.
O primeiro grande absurdo no sistema escolar brasileiro é a não distinção entre educação e ensino. São coisas díspares, embora complementares, na formação de um cidadão socialmente participativo, ou seja, capaz de formar suas opiniões, e de funcionar de forma política e economicamente ativa (e, pois, socialmente) na manutenção da sua comunidade, estado e nação.
No meu entender, a educação é um conjunto de valores culturais e civilizacionais que a família e não a escola deveria passar para os seus dependentes. Todavia, há que se considerar a realidade de uma possível maioria de famílias desestruturadas, fragmentadas e por muitos motivos – entre os quais se sobressai o acúmulo de gerações mal educadas e mal ensinadas – incapazes de educar quem quer que seja. Então, a escola tem que educar essas pessoas, essas famílias, fazendo-as compulsoriamente alunos para a formação de uma cidadania melhor.
O ensino é o conjunto conhecimentos teóricos e procedimentos práticos cujas técnicas pedagógicas visam o resultado de fazer o aluno aprender tudo aquilo do qual dependerá a qualidade da sua futura vida profissional. O ensino tem que ter como horizonte, a capacitação profissional e a educação deve ter como horizonte a capacitação cultural e a assimilação dos valores morais de nossa cultura judaico-cristã, além de se esmerar na construção de um cidadão democrático, que valorize o mérito e capaz de entender a vida que o cerca, os acontecimentos que se sucedem na sua comunidade, no seu estado, no seu país, e no mundo.
Como se consegue isso?
Primeiramente, adotando essa conceituação básica de diferenciar essas duas partes importantíssimas na formação da cidadania. O próprio conceito de cidadania deve mudar. Há um contingente, ainda minoritário, de pessoas capazes, adimplentes, probas, honradas, e cujas ações devem ser consideradas parâmetros a serem estabelecidos para a formação de um brasileiro melhor.
A cidadania, pois, não deve levar em consideração a faixa etária, mas sim a escolaridade educacional e de ensino. Se transformarmos o certificado de conclusão do segundo grau num chamado ‘DIPLOMA DE CIDADÃO BRASILEIRO’, já estaremos dando um passo gigantesco para criar no Brasil um povo-potência, condição legítima para termos a seguir, como consequência natural, um Brasil-potência. Um país não é rico porque tem um estado totalitário e rico, mas porque tem um povo educado, competente, e, por conseguinte, rico. A falta de educação e a ignorância são preceptoras da pobreza e da miséria. O cidadão mal formado é caldo de cultura para o totalitarismo e a corrupção institucional.
É claro que, a partir daí, todas as pessoas que não tivessem a conclusão do segundo grau não poderiam ser considerados “cidadãos” e, por tal razão, teriam que ser consideradas “dependentes”. Esse grande contingente, ainda majoritário, de dependentes, estaria vinculado às quatro molas propulsoras da sociedade civil:
- o cidadão;
- os grupos de cidadãos;
- as empresas;
- o estado.
O cidadão, em tese, teria sob seus cuidados os seus próprios dependentes, nas pessoas de seus filhos e parentes entregues à sua tutela, que ainda não tivessem terminado o segundo grau. Caso a família fosse formada por pessoas não qualificadas para exercer a cidadania, elas deveriam estar aos cuidados de grupos de cidadãos (associações, sindicatos, ONGs, etc.) que a sociedade civil estimularia para se dedicarem a essa atividade social básica e pioneira.
Tais pessoas, também, poderiam ser adotadas culturalmente e pedagogicamente por empresas nacionais ou internacionais com investimento considerável no país, pois elas são, em tese, as principais interessadas em sua futura ‘mão de obra qualificada’.
Finalmente, caso as três instâncias acima não conseguissem educar e ensinar todas as pessoas dependentes e fazer delas cidadãos qualificados conforme os conceitos acima, o estado assumiria o que sobrasse, a partir do município, depois do estado e finalmente em âmbito federal.
As pessoas em formação, os dependentes, não seriam em nada 'inferiores' aos cidadãos como pessoas humanas, assim como os nossos filhos não são inferiores a nós, seus pais e responsáveis. Apenas seguiríamos a lógica de não lhes exigir o cumprimento dos deveres e responsabilidades inerentes ao exercício da cidadania, ao passo que elas, em contrapartida, enquanto ainda não preparadas para tal, obviamente não usufruiriam os direitos que lhes são consubstanciados.
Os dependentes, enquanto nessa condição, não teriam nenhuma participação política, não poderiam ser proprietários, não pagariam impostos, e exerceriam atividades apenas como aprendizes, mesmo que, por isso, viessem a receber algum tipo de ajuda de custo. Não poderiam, pois, receber salários nem qualquer tipo de honorários profissionais, uma vez que somente os cidadãos educados e profissionais, a partir da conclusão do segundo grau, teriam o direito a isso.
É preciso, também, que os cursos educacionais sejam ministrados paralelamente, mas não misturadamente, com os cursos de ensino de formação profissional. Aí, então, reside o problema dos pedagogos e profissionais de educação e de ensino, em estabelecer quais as matérias ou disciplinas pertencem a cada tipo de formação.
Apenas como ilustração, atrevo-me a dizer que, na minha concepção, as matérias de educação seriam, por exemplo, a Educação moral e cívica, a Educação artística, a Urbanidade, a Leitura e interpretação de textos, a Higiene alimentar e vida saudável, a História do Brasil e Geografia histórica brasileira, a História Universal e geografia histórica da humanidade; a Filosofia; a Educação religiosa; a Estética e Sociabilidade; as Noções de direito e de dever, etc.
Os cursos de ensino profissional abrangeriam, então, as matérias que todos necessitarão nas suas vidas profissionais, tais como: Matemática, Línguas, Ciências Naturais, Ecologia e climatologia, Física, Química, Biologia, Genética, Informática, Administração pública e privada, Matemática financeira, Estudo das Profissões, e outras mais, todas direcionadas à formação de profissionais de nível médio, que é o que o país mais necessita.
O nosso desemprego decorre muito mais da falta de mão de obra qualificada do que da falta de vagas no mercado de trabalho. Vivemos num mundo altamente competitivo onde as pessoas que não estão preparadas para terem uma atividade produtiva, fatalmente terão uma atividade destrutiva.
Cabe aos cidadãos e as suas instituições de representatividade democrática, privadas e públicas, a responsabilidade de zerar o déficit educacional e de ensino que existe de forma alarmante na nossa sociedade.
Dentro desta perspectiva, salta ao entendimento que o interesse geral da cidadania e do estado passaria a ser a formação dos seus dependentes, da melhor maneira e da maneira mais rápida possível, transformando-os e cidadãos de uma qualidade muito melhor à que temos hoje.
A sedimentação de valores éticos e culturais cristãos criaria uma mística de honestidade, honradez e probidade que parece, hoje, estar perigosamente se desvanecendo, se é que, algum dia, tenha existido em nosso país de modo efetivo, principalmente após o advento da república.
Está lançada a ideia. Devemos trabalhá-la para fazê-la prosperar.
O Brasil merece isso!


FRANCISCO VIANNA  -    Médico, comentador político e jornalista  - Jacarei, Brasil

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