Pular para o conteúdo principal

100 anos do nascimento de Nelson Rodrigues levanta a questão da convivência da direita e a esquerda

Nelson Rodrigues, autor de peças de alto teor revolucionário no plano moral, foi um apoiador da ditadura militar.

Tendo um filho perseguido, nem por isso deixou de apoiar a ditadura. Um reacionário no plano político, e um autor de teatro revolucionário.

Plínio Marcos foi outro que também escreveu peças com um profundo cunho de denúncia social, e se transformou num tucano quando veio a democracia, contrariando tudo o que se esperava dele.

Quando o malufismo foi entrando em decadência, para onde foram os eleitores do Maluf?

A maioria foi para Lula. Porquê?

É porque existia alguma semelhança entre ambos, para o eleitor, mas que não era visível para os atores políticos, que se digladiavam..

Estas ambiguidades pessoais e políticas levantam a reflexão sobre a tênue distância que, em algumas ocasiões, separa uma ponta da outra da política brasileira, quando a maioria  não vê uma muralha entre ambas.

Veja o caso recente do valoroso Aldo Rebelo em seu projeto do Código Florestal!

Escreveu um relatório que uniu setoers diversos do campo, contrariando os votos urbanos de ambientalistas. Passou longe da divisão direita x esquerda. Até hoje estou em dúvida se os ambientalistas são pré políticos.

Se não houvessem semelhanças, como se formariam as frentes políticas congregando partidos que até ontem eram considerados "de direita", mas que no dia a dia da vida política e parlamentar, vão abrindo possibilidades de composição, e até de coligação.

Quando somos muito dogmáticos nas concepções, estabelecemos uma distância intransponível, mas quando começamos a diálogar vemos pontos comuns, por por vezes nos constrangem pela coincidência, questionando "nossas posições", como se devêssemos manter uma diferença, só por manter, sendo que, por vezes existem concretamente encontros.

Dilma convidou FHC para vários encontros, e tratou o ex presidente de forma afável, independentemente das posições que ele tem afirmado por aí.

Buscou até o Xuxu, o Governador Alckmin, e mantém com ele bom diálogo, apesar dele representar o conservadorismo milenar instalado em Sampa.

Não são algum tipo de superação de diferenças?

Isto exige altivez, uma certa visão supra-partidária, nacional, característica de poucos.

Bem, Nelson Rodrigues viveu em uma época de grandes divisores d'água. Se vivesse nos dias atuais, esta sua "contradição" seria melhor digerida por todos. Naquela época ele foi considerado um traidor.

Precisamos nos perguntar se desejamos apenas as pessoas equilíbradas conceitualmente, ou aceitar que o homem vive uma evolutiva ambiguidade X síntese, ambiguidade X síntese.  Ambas as situações pertencem às mesmas pessoas. Melhor manter uma compreensão e abertura para o outro como ele vier, e buscar a verdade através do diálogo.

Eu mesmo, não sei bem quem sou, como posso definir o outro?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

Eu que moro na Lopes Chaves , esquina com Dr.Sérgio Meira, bebendo atrasado do ambiente onde Mário de andrade viveu, e cuja casa é hoje um centro cultural fechado e protegido a sete chaves (que ironia) por "representantes" da cultura, administrada pela prefeitura... Uma ocasião ali estive, e uma "proprietária da cultura" reclamou que no passado a Diretoria da UBE - União Brasileira de Escritores, da qual fiz parte,  ali se reunia, atrapalhando as atividades daquele centro(sic). Não importa, existem muitos parasitas agarrados nas secretarias e subsecretarias da vida, e quero distância desta inoperância. Prefiro ser excluído; é mais digno. Mas vamos ao importante. O que será que se passava na cabeça do grande poeta Mário de Andrade ao escrever "Quando eu morrer quero ficar". Seria um balanço de vida? Balanço literário? Seria a constatação da subdivisão da personalidade na pós modernidade, ele visionário modernista? Seria perceber São Paulo em tod