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Reflexões na Europa sobre um novo humanismo

A crise na Europa está suscitando uma revisão dos valores presentes na sociedade européia, seja em termos de rompimentos, como em termos de continuidade. E a procura de um novo humanismo, que comporte um diálogo entre crentes e não crentes, sem que necessariamente deixem suas posições, mas reconheçam-se integrantes de uma mesma cultura. Veja matéria que retirei do Zenit, sobre o diálogo entre crentes e ateus promovido pela Igreja.

Um novo humanismo além do secularismo e do integrismoO ministro Ornaghi e a escritora Kristeva dialogam no Festival Bíblico de VenezaVENEZA, segunda-feira, 28 de novembro de 2011 (ZENIT.org) - Um diálogo de alto nível intelectual aconteceu entre o novo ministro italiano da cultura, Lorenzo Ornaghi, e a escritora Julia Kristeva, no encontro "Sobre religião e laicidade na Europa", promovido pelo Festival Bíblico no Salão da Cultura Europeia, em Veneza, neste sábado (26), por iniciativa do Corriere della Sera e da Nordesteuropa.it.
"Sem o humanismo não podemos enfrentar os desafios futuros", afirmou Ornaghi, em sua primeira fala pública após a nomeação para o Ministério do Patrimônio Cultural.
"A presença da religião no âmbito público me parece hoje essencial para reforçar as características constitutivas da vida social, a qualidade do sistema democrático, o seu funcionamento normal, em vez de ser entendida como uma ameaça ao espaço secular da coisa pública.
É possível conceber a participação dos crentes no debate público e a manifestação pública da sua fé como articulações diferentes de racionalidade, como expressões - para usar a fórmula de Habermas – de um ‘desacordo razoavelmente previsível’”.Segundo o ministro, "o papel público da religião numa sociedade" pós-secular "não consiste na substituição da cada vez menos eficaz transcendência política. Pelo contrário, ela tem um papel "corretivo", um papel que se mostra ainda mais interessante quanto mais a fé e a razão estiverem num diálogo constante".
Por sua vez, Julia Kristeva falou em "ousar o humanismo " num novo diálogo entre a tradição secular e a religiosa: "O nosso encontro de hoje acontece depois de um evento de importância histórica considerável: o convite do papa Bento XVI a uma delegação de não-crentes, à qual eu pertencia, para o encontro ecumênico de Assis. Muito mais do que a nossa presença, foi o discurso do Papa na conclusão do encontro o que eu acho que foi um evento importante".
A escritora destacou a harmonia incomum entre crentes e não crentes que pode caracterizar a época atual “sem estigmatizar no humanismo secularizado um motivo de niilismo, ou uma ameaça para a civilização, como facilmente é feito por algumas correntes religiosas. Este papa filósofo convida os crentes a apreciar ‘o caminho para a verdade’ que é trilhado por essas ‘pessoas à procura’, que são os humanistas, em vez de considerar a verdade como uma ‘propriedade que lhes pertence’. Essa verdade como ‘luta interna’ e como ‘interrogação’, evocada por Bento XVI, é precisamente o que o humanismo cristão nos transmite, esse humanismo do Renascimento e do Iluminismo. Um humanismo produzido na Europa, interrompendo o fio da tradição religiosa (nas palavras de Tocqueville e Arendt).
Um humanismo cuja refundação devemos constantemente empreender: não esquecendo os abusos do obscurantismo, mas esclarecendo a complexidade e a profundidade do legado que nos precede"."Estamos conscientes de que não é possível uma economia sem uma robusta inventividade cultural e moral”, sublinhou, no discurso de abertura, Dom Roberto Tommasi, presidente do Festival Bíblico. “A experiência do nosso festival, na sua redescoberta da mensagem das Escrituras judaico-cristãs para a humanidade, é uma variação feliz no diálogo entre o humanismo cristão e secular".Roberto Righetto, editor de cultura do periódico Avvenire, destacou, por sua vez, que o diálogo Kristeva-Ornaghi é um passo no caminho para "delinear um novo humanismo para hoje. Os totalitarismos revelaram que o progresso humano não se desenvolve num caminho linear, mas diante desta situação não se deve ceder à paixão de anulação. Lembrem-se de Albert Camus, definido por alguns como ‘um santo sem Deus’, que incitou os fiéis a não ceder ao mal, às pragas antigas e novas, sempre à procura de um renovado ‘exercício de piedade’".O encontro entre o novo ministro e a pensadora francesa foi frutífero e útil na estratégia de "reestabelecimento do espírito europeu, duramente testado nesses tempos difíceis em que nos encontramos", concluiu Zovic Filiberto, editor da Nordesteuropa.it e promotor do Salão da Cultura Europeia.

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