Desculpe, estou sem tempo (para a sexta-feira)

Não tenho tempo para nada
O beijo fica para depois
o abraço deixo por dar.

Preciso pagar as contas
ir ao banco
ter uma reunião na empresa
visitar o cliente
apresentar um produto.

O trânsito me segura
me aflige
a hora aperta
me comprime.

Não há tempo
mas encontro tempo
para dizer
que fica para depois.

Vamos nos ver
qualquer dia destes
entre uma atividade e outra.

Vamos ver se nos vemos
num fim de dia
fim de tudo
quando não restar mais nada
além de um cansaço
supremo.

Deixa para outro dia
que a gente encontra
uma maneira manera
de se encontrar.

Quem sabe à noite
quando a lua
estoura no horizonte
e se possa relaxar.

Mas não,
nem à noite
apaga a corrida
por um espaço
uma comissão
um encontro
oficial.

Então adeus!

Declara-se morta
a civilização
póscontemporânea
extemporânea
secularista
exclusivista
imediatista
materialista.

Declara-se
o fim do fim.

Só um grande hiato
poderá superar
esta doença
da corrida
louca,
um grande vale
que se abra
para separar
esta geração
de outra.

Fico refém
deste tempo
prisão
exclusão

Fico
a meio termo
entre o ser
e o não ser.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".