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Eliana e Paulo, a vida sobre uma cama

Eliana e Paulo são dois amigos que tenho, que moram na UTI da Ortopedia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Necessitam de aparelhos que os mantém vivos há uns 40 anos.

Estes dias o IG fez uma bela reportagem com eles.

Deixaram a todos perplexos com o seu testemunho, pelas diversas atividades que desenvolvem.

Por isso, não pude deixar de visitá-los este sábado, dia em que faço minhas visitas pela Pastoral da Saúde no HC de SP.

Antes, entretanto, visitei um rapaz em um quarto, o Jocilei, que me passou uma tremenda demonstração de coragem e esperança na vida.

Jocilei tem uma moto.

Na semana passada, ele deixou sua esposa no trabalho e quando ia fazer o contorno de Bonsucesso, na rodovia Dutra, pegou um poça de óleo, a moto derrapou e ele caiu embaixo de um caminhão que passava e que pegou uma de suas pernas.

Os médicos ao verem a situação de sua perna, disseram ao Jocilei que neste caso, o melhor seria amputá-la.

Jocilei respondeu sem a menor frustação, aos doutores:

- Se for para eu ficar curado, os senhores podem amputá-la.

Conversei um pouco com ele sobre o seu futuro, e ele mostrou-se bastante esperançoso.

A impressão que tive é de que tudo poderia ser bem pior.

Se o caminhão tivesse passado sobre sua barriga ele teria morrido.

É imenso no Brasil o número dos amputados por acidentes de trânsito, principalente por acidentes de motos. E não há uma legislação, ou atitudes concretas que impeçam esta quantidade imensa de amputações e mortes.

Segundo o Jornal O Estado de São Paulo a quantidade de motociclistas mortos no trânsito de São Paulo aumentou 11,7% no ano passado (foram 478), interrompendo tendência de queda dos períodos anteriores.

O dado chama ainda mais a atenção, porque houve redução na mortalidade de todos os outros personagens do trânsito: motoristas, ciclistas e pedestres. As pessoas nas calçadas e atravessando as vias, no entanto, continuam sendo as maiores vítimas, com 630 mortos em 2010.

São quase 2 motociclistas mortos por dia em Sampa.

Mortos por atropelamento, seja na calçada, seja atravessando as vias, é bem maior.

Enfim, mais tarde fui ao quarto da Eliana e do Paulo.

Paulo estava na Internet e conversamos sobre Kierkegaard, em seu livro "Tremor e Temor" e o existencialismo cristão, entre outros assuntos de filosofia e espiritualidade.

Eliana disse-me que o seu facebook havia bombado de tanta visita por causa da reportagem, que ela havia gostado muito, mas que recebera algumas mensagens que lhe deixaram um pouco desconcertada.

Disse-me que alguns lhe confidenciaram que estavam com depressão e, quando souberam da história de sua vida e do Paulo, se reconfortaram com a pequenez de seus problemas.

Eliana disse-me que não quer ser referência para os problemas dos outros.

Concordamos que as pessoas não conseguem resolver os seus problemas, então olham para os problemas dos outros para se conformarem, o que é errado.

Ao final compreendemos que assim é o mundo, e que também com estes devemos ter compreenção, na esperança de que eles entendam suas dificuldades no seu próprio contexto.

Bem vou ficando por aqui, o fim de semana foi corrido, e a semana que vem tem muito a ser feito.

Vamos ter esperança na vida e em nosso país, sem resmungos, heim gente!






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