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Proselitismo religioso em escola de Brasília levanta discussão sobre o papel do Estado Laico

Não se deve confundir estado laico com ausência de religião, mas como aquele que não tutela uma religião em especial, e permite a justa representação religiosa no país.

Onde esta representação justa não for possível de ser atingida, ele deve suprimir ou adequar esta representação.

Em se tratando de Estado Laico, ele deve também contemplar os que não possuem religião, em seus diversos matizes, respeitando igualmente a representatividade.

É desta forma que se deve ver o Estado Laico.

De forma alguma o Estado Laico é um Estado irreligioso; muito ao contrário, ele respeita um grau democrático mais elevado as diversas expressões religiosas existentes no país. 

Por isso mesmo não se deve estranhar um expressão cristã em uma escola, ou uma oração, porque a sociedade brasileira é basicamente cristã, e como tal deve ser considerada.

Deve haver, no entanto liberdade para os pais que não compartilhem destas práticas, e queiram que seus filhos não permaneçam junto dos outros, que estão em oração matinal.

E os filhos devem saber igualmente, que seus pais tem pensamentos diferentes dos pais de seus coleguinhas.

Porque os filhos de ateus não podem receber uma educação atéia desde o início?

Podem, mas não recebem, porque muitos pais não tem suficiente convicção de seu ateísmo ou agnosticismo.

Quando as crianças vem para a escola se defrontam inevitavelmente, culturalmente, com a formação religiosa dos demais. E naturalmente trazem para casa esta problemática, ou solucionática.

Pertence à vida democrática.

O direito de fazer uma oração matinal, no entanto, deve ser respeitado, mesmo em um estado laico, ainda mais sendo o Brasil um país de maioria cristã.

Não há aí, nenhuma ofensa ou ataque ao Estado Laico.

A História das relações das Igrejas e das religiões com os Estados Socialistas no mundo, ainda deve avançar, mas podemos dizer que erros houveram de todas as partes.

Sabemos, entretanto, com base nesta experiência que um Estado não pode impor sua crença a toda a população, sob pena de tornar-se ele mesmo um Estado Teocrático, idolatrando alguém, seja a Deus, sejam deuses, ou seja um homem, um líder querido.

Porque um Estado que adora a um Líder já falecido, é igualmente teocrático, apenas transfere a adoração a um homem. Os exemplos são tantos que me recuso a dizer.

Atualmente as relações dos Estados Socialistas com as Igrejas e religiões é mais flexível, do que nos Estados Teocráticos, embora ainda existam questões a serem melhor equacionadas.

Que não se transfira artificialmente da Europa, que é um continente que está perdendo sua identidade cristã ao islamismo e ao secularismo (substituição da fé pelos prazeres materiais), para um Brasil eminentemente cristão e bem cristão, ainda que, com suas deformações, as leituras erradas sobre o papel do Estado e das religiões que por lá se apregoam.

Os ateus que têm filhos em escolas podem exigir separar seus filhos dos demais, nesta hora; mas, exigir que se deixe de fazer orações, aí o Estado laico está entrando em um terreno perigoso de defender o ateísmo para crianças, que em sua maioria recebe formação religiosa de seus pais.

É bom os pais se declararem agnósticos aos seus filhos, revelando-lhes sua crença, ou  sua descrença.

Com certeza seus filhos não seriam surpreendidos na escola, nem seus pais ficariam temerosos.

Ou então, talvez não existam pais agnósticos, mas desinteressados.

Então seus filhos trarão uma discussão nova para sua casa.

Afinal, Deus existe ou não existe, heim papai?

Vai responder!

Senão posso pensar estar existindo uma inversão de valores nas escolas, onde se reconhece o direito das relações homossexuais, e não se reconhece o direito da oração. Tudo pode ter o seu lugar. Assim deve ser o Estado laico.


Veja matéria abaixo.

19 de Agosto de 2011 - 15h57



Uma “guerra santa” foi travada entre os pais das 180 crianças de 4 e 5 anos que estudam no Jardim de Infância da 404 Norte, na região central de Brasília. Uma oração feita pelos alunos diariamente, antes do início das aulas, é o principal motivo da discórdia.

De um lado está um grupo de pais que pede a exclusão de referências religiosas das atividades escolares. Do outro, os que apoiam o ritual diário e consideram que a direção da escola está sendo perseguida.

A discussão teve início quando uma denúncia sobre o assunto foi encaminhada à Ouvidoria da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Todos os dias antes das aulas os alunos se reúnem no pátio da escola para o momento chamado de acolhida. Nessa hora, são estimulados a fazer uma “oração espontânea”, como define a diretora Rosimara Albuquerque.

A cada dia, crianças de uma turma ficam responsáveis por fazer os agradecimentos a Deus ou ao “Papai do Céu”. “Pode agradecer pelo parquinho, pelos colegas. Mas houve um questionamento por parte dos pais para que fosse um momento de acolhida um pouco mais amplo já que algumas famílias não comungam dessa religião, que seria basicamente cristã”, conta Rosimara, que está à frente da escola há seis anos.

Para a radialista Eliane Carvalho, integrante da Associação de Pais e Mestres do colégio, a escola está ultrapassando os limites permitidos pela legislação. Ela e outros pais que protestam contra essas atividades se apoiam no princípio constitucional da laicidade para pedir que práticas de cunho religioso fiquem de fora do ambiente escolar.

Além do momento da acolhida, ela conta que notou outros sinais de violação, a partir de informações que o filho de 4 anos levava para casa.

“Não posso dizer que existem dentro da sala de aula práticas religiosas. Mas meu filho não aprendeu em casa a orar em nome de Jesus. Um dia ele me disse que o telefone para falar com Jesus era dobrar o joelho no chão”, relata Eliane.

Em resposta à denúncia, um grupo maior de pais organizou um abaixo-assinado a favor da escola e da oração no início das aulas. Alguns alegam que a diretora está sendo perseguida por ser católica e atuante em grupos religiosos.

“A forma como eles [professores e direção] estão atuando não é nada abusiva ou direcionada a uma crença específica. Eles colocam a palavra de Deus, como entidade superior, e agradecem à família. São só coisas boas, frutos bons. Quem está incomodado é uma minoria”, alega Thiago Meirelles, que é católico e pai de um aluno.

Para Carolina Castro, mãe de outro estudante, a intenção da escola é "positiva" e busca a socialização. “Não acho que eles estejam tratando de religião em si, mas passando uma noção de agradecimento do que é precioso na vida. Não acho que isso seja ensino religioso”, acredita.

Eliane Carvalho lamenta que a discussão tenha ficado polarizada. “Não é uma discussão pessoal, mas de currículo. O grupo que fez o abaixo-assinado passou a nos ver como perseguidores de cristãos, hoje somos vistos como pessoas absurdas que não querem a palavra de Deus na escola. Todos têm o direito de fazer suas orações, mas eu questiono o fato de a escola aceitar uma prática que, para mim, se configura em arrebanhar fiéis”, diz.

O "momento da acolhida" é feito há 40 anos, desde que a escola foi fundada, e é comum também em outros colégios da rede. Na última semana a reza foi substituída por cantigas de roda e outras atividades.

“Aí, sim, parecia uma escola, antes parecia uma igreja. Como pai que tem a obrigação de dar uma orientação religiosa à filha, não posso permitir que haja divergência. O mais triste é que, apesar de essas pessoas dizerem que estão pregando o amor e o respeito, elas não têm respeito nenhum pela minha liberdade de que não haja essa interferência [religiosa]”, diz Mafá Nogueira, pai de uma aluna.

Para resolver o problema, a escola vai convocar reuniões com pais, professores, funcionários e representantes da Secretaria de Educação.

“Vamos discutir como a gente pode abordar a pluralidade e a diversidade sem agredir ninguém e que todos possam sair satisfeitos. Mas essa polêmica é salutar porque, na medida em que a gente ouve questionamentos de pais que pensam diferente, isso é saudável para o crescimento. Podemos adotar uma postura diferente, estruturada no que a comunidade pensa”, avalia a diretora Rosimara, que usava no pescoço um cordão com um crucifixo enquanto conversava com a reportagem da Agência Brasil.

A Secretaria de Educação do Distrito Federal informou que desconhece problemas semelhantes em outras escolas da rede e reiterou que orienta as unidades a seguir a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que veda qualquer prática proselitista no ambiente escolar.

Fonte: Agência Brasil

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