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O que o sacrifício de Isaac tem a ver com nossas vidas nos dias atuais?




A passagem inicia-se no capítulo 22 de Gênesis. A descrição inicial segue o seguinte relato: Depois desses acontecimentos, sucedeu que Deus pôs Abraão à prova e lhe disse: “Abraão!”. Ele respondeu: “Eis-me aqui!”. Deus disse: “Toma teu filho, teu único, que amas, Isaac, e vai à terra de Moriá, e lá o oferecerás em holocausto sobre uma montanha que eu te indicarei”.


O sacrifício de Isaac vai, aparentemente, em direção contrária a todas as promessas feitas por Deus a Abraão.

Deus prometera uma terra, Canaã; prometera também fazer uma grande nação, à partir dele, Abraão.

Agora tudo isto parece ir por terra, e os sonhos de uma grande posteridade desaparecer. Afinal Isaac, é o seu filho legítimo, com Sara, nascido quando promessa, e não arrumando uma posteridade, como com  Ismael, filho de Abraão e a escrava Agar.

Isaac é o filho da promessa de Deus, maior do que a própria crença de Abraão e Sara, que buscaram “ajudar” a promessa com Agar, a escrava. Melhor seria dizer que não acreditaram que a promessa se cumpriria, ou também quiseram não deixar a promessa de Deus ficar sem resposta(?).

Abraão e Sara não haviam resistido mais de 10 anos de promessa feita por Deus, e decidiram realizar a promessa “ao seu jeito”, numa evidente manipulação dos desígnios divinos.

Abraão foi posto à prova por Deus. Devemos considerar o caminho de fé que temos, nem sempre tranqüilo, mas também sujeito a grandes obstáculos, que parecem comprometer todo o nosso projeto de vida.

É nestas ocasiões que teremos a oportunidade de mostrarmos até onde somos fiéis, e seguirmos caminhos difíceis, mantendo a esperança.

Sem reclamação ou murmúrio, logo pela manhã ele partiu a lenha do holocausto, selou o jumento e tomou consigo dois servos e seu filho Isaac. Prontidão na obediência diante do pedido de Deus, foi a maneira como Abraão respondeu.

Abraão tem diante de si a montanha. Sem esmorecer pede que os servos aguardem dizendo: “Eu e o menino iremos até lá, adoraremos e voltaremos a vós”

Abraão sabe que é de Isaac que lhe virá a descendência maior que a quantidade das estrelas do céu. Sabe que Deus lhe fez esta promessa. Então mesmo que ele faça o sacrifício, ele sabe que Deus tem o poder de preservar a Isaac.

Diante da pergunta do filho que vê o lenho e o fogo, mas não vê o cordeiro, Abraão responde cheio de fé: “É Deus quem proverá o cordeiro para o holocausto, meu filho”.

A fé de Abraão não mente. Ele tem um pensamento de que Deus lhe virá em socorro. Isto, no entanto, não lhe faz alterar o cortejo do sacrifício.

Ao chegar ao local, Abraão faz o cerimonial todo: constrói um altar, dispõe a lenha, amarra o filho Isaac, e o coloca sobre o altar em cima da lenha.

Tudo leva a crer que Abraão iria até o final do sacrifício, pois não teve sequer uma dúvida na ação.

Foi interrompido, entretanto, por um anjo de Deus, que o impede, reconhecendo sua fidelidade, que não recusara o seu único filho.

A passagem do sacrifício de Isaac nos traz uma reflexão sobre os caminhos da nossa fé no tempo de nossas vidas.

A fé é provada. Não há fé sem provas. Ela está em constante desenvolvimento e surgem circunstâncias que exigem de nós posicionamentos, que vão, aparentemente, na direção contrária do que sempre fizemos.

Surgem situações que confrontarão nossas próprias concepções de Deus, porque seu mistério insondável comporta caminhos nem sempre esperados e desejados.

Deus nos conhece até o mais fundo do nosso ser, mas deseja que nós nos conheçamos também.

Fé, que a epístola aos Hebreus dirá (Hb11,8-12) que Abraão foi servo obediente, que acreditou sem assistir as realizações de todas as promessas.

Também hoje Deus nos convida a sairmos de onde eswtamos, para alcançarmos um objetivo maior em nossas vidas.

Também hoje Ele nos desestabiliza do seio de nossos pais, para uma aventura, que por vezes é errante, mas que aos olhos da fé, desembocará naquele fim predito.

Também hoje esperaremos, e tentaremos dar uma solução caseira, ajustando Deus à nossa conveniência. Nos recuperaremos de nossas fraquezas e voltaremos ao caminho certo.

Atingiremos algumas destas promessas, outras, deixaremos para usufruto de nossa posteridade.

Este é o caminho da fé em Deus, perseverante, vencendo as nossas vacilações, e continuando.

(Trabalho que acabo de digitar para a matéria Pentatêuco)

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