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A Igreja copta do Egito, à mercê dos salafitas



Os conflitos religiosos no Egito aumentam a cada dia com a perseguição aos cristãos

Por Paul de Maeyer
quinta-feira, 12 de maio de 2011 (ZENIT.org) - Uma nova onda de violência inter-religiosa no Egito deixou ao menos 12 coptas mortos e 232 pessoas feridas na tarde de sábado, 7 de maio, quando centenas de manifestantes salafitas, uma corrente muçulmana fundamentalista, atacaram a igreja copta de São Minas, no bairro de Imbaba, periferia do Cairo (AINA - Assyrian International News Agency, 8 de maio).
Os manifestantes pediam aos gritos a libertação de uma mulher supostamente convertida ao islã, uma jovem chamada Abir, que estaria presa no complexo da igreja, fato negado pelo próprio governador da província de Gizé e pelo padre Yohanna Mansour, da diocese copta de Gizé. Depois das agressões verbais iniciais, a situação degenerou rapidamente e passou para os ataques com pedras e coquetéis molotov, até começarem os tiros. Algumas casas sofreram danos, inclusive incêndios, junto com outras duas igrejas do mesmo bairro, entre as quais uma católica (Fides, 9 de maio). “Um grupo de salafitas entrou atirando na igreja e matou o pai de um dos nossos postulantes, que está em Uganda”, contó a Fides o padre Luciano Verdoscia, missionário comboniano.
Segundo o jornal egípcio Al-Ahram (8 de maio), os incidentes ocorreram poucas horas depois que um canal de televisão sediado em Chipre -Hayat Christian TV- mostrou outra suposta neo-conversa ao islã, Camelia Shehata Zakher, esposa de um sacerdote copta que, junto com a outra “convertida”, Wafa' Costantine, está no centro da polêmica entre a comunidade muçulmana e a copta. Na televisão, Shehata negou que tivesse se convertido ao islã. Em gravação disponível no YouTube, a mulher, de 25 anos, afirma que pertence à igreja copta e nega ter sido torturada, como alguns grupos muçulmanos tinham denunciado. “Sou cristã por escolha pessoal”, afirmou ela, dizendo-se ainda “muito fiel à Igreja”.
Mas a falsa história da “conversão” de Shehata e Wafa' Constantine continua envenenando as relações entre as duas comunidades.
Na tentativa de se consolidar no Egito pós-Mubarak, o movimento conservador dos salafitas procura tirar o máximo proveito da polêmica dos supostos conversos. Se antes pouco se falava dos salafitas, após a queda de Mubarak, em 11 de fevereiro, eles passaram a ser “muito ativos”, tentando, por exemplo, assumir o controle de uma das maiores mesquitas da capital, a Nour ou Noor. Foram impedidos pelos militares.
Nas últimas semanas, indivíduos ou grupos salafitas lançaram vários ataques contra igrejas coptas. Na quarta-feira 30 de março, no coração do Cairo, foi anunciada uma aliança para apoiar os “novos muçulmanos”: segundo os responsáveis, cerca de 70 conversos ao islã teriam sido sequestrados pelos coptas (ZENIT, 14 de abril de 2011).
Sincronizados com a Páscoa cristã, os salafitas anunciaram seu “programa” de dez pontos ou pedidos à Igreja copta durante uma manifestação no domingo 25 de abril, diante da mesquita El Kayed Ibrahim de Alexandria. Entre as exigências estão “a libertação de Shehata e Wafa' Constantine” e “a inspeção dos mosteiros e igrejas para procurar mulheres muçulmanas aprisionadas pela Igreja” (AINA, 30 de abril).
Algumas testemunhas relatam que no ataque de sábado alguns salafitas estavam vestidos como os talibãs. Segundo um residente de Imbaba, Saber Loutfi, que falou para o Coptic Free Voice, os responsáveis pertencem aos “3.000 jihadistas que voltaram recentemente do Afeganistão” (AINA, 8 de maio). A pobreza também alimenta o extremismo, como declarou o padre Verdoscia à Fides. “Imbaba é um bairro pobre e o fanatismo prospera onde reinam a ignorância e a pobreza. Os salafitas são um grupo minoritário, mas barulhento, graças inclusive a ações violentas”.
O banho de sangue em Imbaba ligou o alerta para o governo do primeiro ministro Essam Sharaf, que adiou uma visita ao Bahrein e aos Emirados Árabes Unidos e convocou uma reunião de emergência para discutir a situação. O ministro da Justiça, Abdel Aziz al-Gindi, afirmou que o governo manterá “punhos de ferro” contra os que ameaçarem a segurança do país (BBC, 9 de maio). Os militares também parecem decididos a ser duros: “O Supremo Conselho Militar decidiu enviar todas as pessoas presas no sábado ao Tribunal Supremo Militar” (BBC, 8 de maio).
O Grande Mufti do Egito, professor Alí Gomaa, exortou os egípcios a “ficarem unidos para evitar os enfrentamentos” (Reuters, 8 de maio). Essam El-Erian afirmou com clareza: “Precisamos mudar de vida contra esta violência. Não podemos permitir que essa gente arruíne o que fizemos na Revolução de janeiro”, disse o porta-voz dos Irmãos Muçulmanos (Al-Ahram). “O incidente de Imbala demonstra claramente que algumas pessoas continuam atuando às escondidas para provocar os conflitos sectários”, declarou El-Erian, fazendo alusão ao partido do ex-homem forte do Egito, o ‘National Democratic Party’ (NDP). Segundo os meios de comunicação egípcios, seria uma “contrarrevolução” organizada dos restos da formação política, dissolvida oficialmente pela justiça egípcia no dia 16 de abril passado.
Nem sequer o bispo de Gizeh, Dom Anba Theodosius, tem dúvidas. “Essas coisas estão planejadas”, disse com amargura (AINA, 8 de maio). “Não temos lei nem segurança, estamos na selva. Estamos em um estado de caos. Um rumor percorre toda a região. Todo dia é uma catástrofe”, continuou o prelado, que não pretende ceder em nada aos extremistas. “Não abandonaremos nunca o nosso país”, disse com firmeza.
A Igreja local também criticou as forças de ordem. “O exército não se oporá às pessoas que fazem essas coisas. Querem permanecer neutros. A polícia chega, mas muito lentamente. Tem medo”, declarou em uma entrevista concedida a AIS (Ajuda à Igreja que Sofre), dia 9 de maio, o bispo católico de Gizeh, Dom Antonios Aziz Mina.
Para o bispo, não basta restabelecer a ordem. “Não podemos alcançar a paz e a reconciliação sem antes levar essa gente à justiça. Senão a reconciliação será um teatro e os problemas continuarão existindo”, disse. No bairro de Imbaba, a comunidade copta começou – segundo o jornal egípcio Al-Masry Al-Youm (8 de maio) –, a formar grupos de auto-defesa.
Para o padre Verdoscia, urge uma reforma no islã. “O islã deve evoluir – disse a ‘Fides’ –. Espero que os muçulmanos moderados possam se distanciar de determinadas leituras do islã”. Segundo o comboniano, que vive no Egito há muitos anos, “esses homicídios acontecem quando no islã, uma categoria de pessoas é declarada 'kuffar' (infiel); podem então ser assassinadas ou privadas de todos os seus bens. As interpretações desse tipo devem ser revisadas pelos próprios muçulmanos”.

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