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AS AVENTURAS DO URUBUZINHO

Imagem do Urubu
(Contos para dormir)

Capítulo 1 – Viver é aventurar

Meu pai, Sólon Fernandes, foi um bom homem. Nascido em Uberaba, Minas Gerais, nos idos de 1910, cultivou desde cedo o apreço por animais de toda espécie. Quando nasci, em uma casa que ficava ao fundo do Fórum de José Bonifácio, em 1949, São Paulo, ele já era Juiz de Direito em início de carreira.

Suspendeu uma Audiência, só para acompanhar o parto do terceiro filho. Conhecera minha mãe, Sebastiana Souza Naves, na Capital, naquelas visitas costumeiras que existiam entre as famílias Naves e Fernandes. Foi amor à primeira vista. Mamãe era linda e papai um sortudo.

Bem, eu passaria meus dias contando e recontando suas vidas sem me cansar, porque me trazem muitas lições, porém, quero ater-me a um destes acontecimentos que deles aprendi.

Refiro-me às incontáveis histórias do Urubuzinho, personagem principal deste livro, que por diversas vezes ouvi papai me contar, ao deitar-me na cama para dormir.

Pois é, nos idos de 1950, existia um salutar hábito dos filhos pequenos terem horário para dormir. Havia até uma propaganda dos Cobertores Paraíba, às 21hs, apresentado na TV Tupi, com uma música de dormir, indicando aos pais o horário de levar os filhos para a cama.

“Já é hora de dormir

Não espere mamãe mandar.

Um bom sono prá você

e um alegre despertar”.

A pequena resistência inicial de ir para a cama era prontamente vencida pelo argumento poderoso da autoridade paterna, seguida pelo beijo materno de concordância.

Acreditava-se, naquela época, que a programação da TV depois das 21 h., era algo verdadeiramente impróprio para menores. Hoje, envolvidos numa dimensão de permissividades, identificamos naquela atitude muita ingenuidade e pureza. Cada época tem suas próprias dimensões de valores, e o olhar ao passar do tempo, acaba por absolver o passado.

Como me encontrava aconchegado no sofá, junto de mamãe, era fácil ser retirado. O convencimento final acontecia quando papai prometia contar a história do Urubuzinho.

Eu sei que isto de dormir cedo hoje é impossível de ser compreendido, como algo natural e necessário à educação e aos bons costumes, mas àquela época os meios de comunicação ainda não tinham incutido sua voracidade por devorar telespectadores por horas incontáveis.

Aquele era um momento especial, em que encoberto pelo lençol, com medo de ficar sozinho no quarto, acompanhava-me ali o papai com as histórias do Urubuzinho, que invadia meus ouvidos, e adentrava meus sonhos.

Tudo começou em Uberaba, Minas Gerais, provavelmente no ano de 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, quando papai tinha seus cinco anos de idade.

Um dia, Senhor Cinza, meu avô, que não conheci, trouxe um filhote de urubu, que encontrara caído no chão, quando voltava de uma de suas muitas viagens pela região, já nas cercanias da cidade. Vovô era dentista, e atendia muita gente, andando pelos povoados, vilas, fazendas, sítios.

Não parecia um urubu, com aquele aspecto repugnante que vemos, quando está em cima da carniça, mas também não tinha nenhuma beleza especial.

Era meio feinho mesmo: barrigudinho, de penugens brancas de fazer esquecer seu futuro enegrecido, com o bico meio torto e comprido. Vinha enrolado em uma folha de jornal, para protegê-lo do frio, e também de qualquer sujeira inesperada na roupa. Ao chegar em casa aquele filhote de urubu foi recebido com surpresa pela minha avó, e alegria por todas as crianças.

A casa de meu avô Cinza e de minha avó Felicidade era sempre cheia de gente, pois sendo espíritas, atendiam a todos os necessitados, mesmo os leprosos, que viviam fora da cidade.

Quando os leprosos adentravam na cidade, badalando seus sinos para as pessoas se afastarem deles, vovô vinha com sacolas de comida e remédios e a prendia nos alforjes das selas dos cavalos

Papai vivia com mais seis irmãos. O filhote de urubu foi dado aos cuidados de uma das irmãs, Alice, conhecida como Tia Quetena. Logo ele recebeu o nome de Urubuzinho, porque era pequenininho.

Urubuzinho foi criado no chão, ao lado da cama de tia Quetena, que deveria ter aproximadamente uns 15 ou 16 anos. Foi sendo alimentado com pedaços de carne, e das sobras da comida servida na mesa. Não existia uma preocupação com a sua alimentação como hoje, que é tudo com ração, e veterinários. Ele teve, sim, toda a liberdade de movimento dentro da casa. Tia Quetena cuidava de limpar as sujeiras deixadas pelo caminho, e assim, todos conviviam muito bem.

Conforme foi crescendo, Urubuzinho foi sendo levado para o quintal, que ficava nos fundos, e lá permanecia a maior parte do dia. Quando as penas ficaram pretas e grandes, aprendeu a voar. Inicialmente dava vôos rasantes pelos quintais da vizinhança, e mantinha ainda muito o hábito de caminhar pelo chão. Com o passar do tempo, entretanto, aprendeu voar longe, indo às alturas. Na hora das refeições, tia Quetena trazia seu prato de comida para o quintal e, batendo nele com acolher, assobiava chamando a ave, que do alto do céu despencava com incrível velocidade para se deliciar da comida de Vó Dade.

Assim papai me contava, na cama, antes de dormir, como começaram as aventuras do urubuzinho, porque teve a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.

Urubuzinho era um animal inteligente e esperto, amigo e fiel, sempre pronto a ajudar. Tinha principalmente uma grande disposição para viajar, descobrir novidades. Ele não conhecia limites em suas ações, era determinado.

A primeira viagem de Urubuzinho foi quando ele tinha seus dois anos de idade. Voou para longe, a perder de vista, e voltou, dois meses depois, magro e feliz.

Contara ter ido para a região do Mato Grosso. Não existia a divisão territorial de hoje, em dois Estados, duplicando o número de governadores, vereadores e deputados.

- Sólon, você não acredita como é o Mato Grosso – dizia o Urubuzinho – é incrível, água que não acaba mais, encharcando a vegetação rasteira, e muitos arbustos e árvores. Vi muito gado pelo caminho. Fiz amizade com o boi José, muito simpático, que me acolheu em uma noite, eu nos galhos, ele no pé da árvore. Ali se dorme com um dos olhos abertos, muito engraçado. Dizem que é a onça que provoca isso, mas eu não cheguei a vê-la, mesmo lá de cima. Por isso deve ser tão perigosa. Mas o boi José não, ele é um cara bom. Deu-me tranqüilidade. À noite, ouvem-se muitos ruídos que vem da mata, que não deixam a gente dormir sossegado, sobressaltado.

- Mas papai, o urubuzinho ficava sozinho? Comentava com ele, já na cama.

- Não, meu filho, sozinho não. Mas você sabe, numa mata, mesmo com a companhia de alguém, a gente tem a sensação de estar desprotegido. Mas o boi José era muito experiente e pacato, e transmitia paz. Urubuzinho ouviu muita história de boiada, de como os bezerrinhos tinham que lutar desde cedo para sobreviverem contra toda espécie de perigo. Boi José era um fugitivo, e já estava com seis anos de idade. Ficava escondido no meio da mata, fugindo da perseguição dos peões.

- Mas porque o Boi José tinha que se esconder?

- Bem, a verdade é que os bois vivem até serem enviados para os frigoríficos, para serem transformados em carne. Você não gosta de comer um bife a milanesa? – argumentou papai.

- Gosto, mas nunca pensei que poderia, sem querer, comer, de repente, o boi José.

- Não se preocupe meu filho, jamais vão conseguir fazer isto com ele.

- Mas como é que ele aprendeu a se esconder assim das pessoas? Ele conhecia bem a geografia do local?

-Boi José aprendera a se esconder observando as capivaras que vivem nos rios e lagos da região. Elas ficam grande parte do tempo na água, mergulhando. Quando saem, geralmente à noite, para não serem percebidas, dirigem-se ao pasto para comer a vegetação, como se diz, gramas.

Permanecendo próximo aos lagos, ele fez amizade com uma capivara muito interessante. Esgueirando-se por entre os arbustos para passar despercebido, ouviu alguém o chamando.

- Ei vocês aí! O que vocês estão fazendo por aqui! Atchim!

Boi José olhava ao lado para ver se tinha mais alguém o acompanhando, e voltava-se para localizar de onde vinha aquela estranha voz.

- Ei vocês aí! Alto! Atchim! Onde vocês pensam que vão? Este lago tem dono.

Preocupado em ser seguido, escondeu-se, entrando na água até cobrir todo o seu corpo, deixando apenas a cabeça de fora.

- Agora vocês também querem nadar no meu lago?

De repente surgiu ao lado do Boi José, uma capivara, emergindo do fundo da água.

- O que vocês estão fazendo aqui! Atchim!

Boi José percebeu que era uma capivara.

- Bem, dona capivara, aqui só estou eu. Não sei de onde a senhora está vendo mais gente.

Ao olhar melhor a capivara que estava ao seu lado, boi José notou que ela era caolha, pois seus olhos estavam esbugalhados, um olhando para ele outro não.

- Desculpe Senhor Boi. - Atchim! Mas eu nunca tenho a certeza de quantas pessoas estão por perto, então já vou falando no plural. Atchim!

- Bom dia dona Capivara, meu nome é Boi José. Recebi este nome porque fui criado pelo José, filho de um peão destas fazendas da região. Eu era o bezerro do José, depois, Boi do José, e finalmente, Boi José. E a senhora como se chama.

- Bem os animais aqui me chamam de Capivara Caolha Espirradeira, porque eu vejo tudo duplicado e espirro tão alto que todos ouvem. O que o senhor está fazendo por estes lados, Boi José?

- Eu sou um boi fugitivo. Descobri a liberdade, e agora não existem mais pastos cercados para mim. Eu sou agora selvagem. Não deixo ninguém me passar o laço. Gostei de ser livre. E a senhora, dona Capivara Caolha Espirradeira, como consegue viver por aqui?

- Bem, eu vivo nadando e pastando. Fico muito preocupada em não ser atacada pela onça, principalmente quando estou pastando, ou nas margens do lago, porque a onça é esperta e paciente. Por ficar olhando pro pasto e pros lados, para não ser atacada, fiquei caolha. Sair e entrar na água toda a hora também me tornou espirradeira.

- Deixe-me apresentá-la ao Urubuzinho. - disse o boi José.

- Urubuzinho? Atchim! Aonde, que eu não tina visto.

- Sim, sou eu. Aqui, em cima da árvore!

- Os urubus daqui do Mato Grosso não conversam com a gente. Só aparecem quando alguém morre, ou está quase morrendo. Por isso são vistos como lixeiros da floresta, ou como mal agourentos, que desejam o mal da gente, para se alimentarem. Porque vocês não descem daí de cima da árvore, para eu vê-los melhor.

- Desculpa dona Capivara Caolha Espirradeira, mas só tem um urubu aqui, que sou eu mesmo, e o meu nome é urubuzinho. Olhe bem, eu não me alimento de animal que morreu, porque minha avó Dade me ensinou a comer comida de gente. Eu sou um urubu criado, de família.

- Desculpe a mim, Urubuzinho, por pensar mal de você, antes de conhecê-lo. A gente aqui na mata tem uma lei própria, muito simples. Qualquer animal pode ser perigoso, desde que tenha fome.

- Não se preocupe dona Capivara Espirradeira, que isto de pensar mal das pessoas, tem bastante na cidade. Lá em “Beraba”, por exemplo, tirando a casa do “vô” Cinza, onde todo mundo é muito legal, ocorre demais disso, de gente pensar mal de gente. Espiam a vida de todo mundo, e depois ficam comentando com os outros, do que viram. Gente que não tem mais o que fazer, passam o dia fofocando pelos quatro cantos da cidade.

- Bem dona Caolha – falou o Boi José – eu acho que no início da criação nenhum bicho comia outro bicho, nem o homem comia bicho. Meu pai, que Deus o tenha, era letrado nas histórias divinas, e dizia que houve uma época de ouro, onde pastavam juntas, a onça e a ovelha, sem se maltratar, quanto mais matar. Que a criança punha as mãos na toca da serpente e nada acontecia.

- Você está falando de um sonho, ou de desejo, Boi José? Porque estamos bem longe disto. A lei por aqui, é a do mais forte, da sobrevivência. Aqui, os bichos aprenderam na marra a tal lei da Seleção Natural daquele tal de Darwin. É “cada um pra si, e Deus pra todos”. Só os mais fortes sobrevivem.

- É verdade, Don Espirradeira, está tudo invertido. Quem é mais fraco, acaba cedo, quando deveriam ser mais protegidos.



ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ



Depois de eu pegar no sono, papai volta para a sala, para junto de mamãe, que está assistindo a um programa de perguntas e respostas, com premiações, chamado “O Céu é o Limite”. Eram os idos de 1958, aproximadamente.

- Está ótimo o programa hoje, Sólon.

-Sebastianinha, estou compondo uma música para o programa “O Céu é o Limite”, veja o que você acha:

Quem acerta no palpite

lá no céu é o limite

é cabra, é cabra

é cabra muito esperto

está absolutamente certo

diga logo sabichão

quem foi Napoleão

Ramalho Ortigão

Sansão, Absalão

a minha ficha é forte

tem pergunta de morte

aqui quem não responde

meia volta e pega o bonde.



Mamãe sorri da música, e completa.

- Porque você não vai a TV Tupi, e procura o maestro Erlon Chaves, para mostrar sua música. Quem sabe eles gostam e colocam na abertura do programa.

Entre minhas muitas lembranças deste tempo, vejo-me em uma sala de espera da TV Tupi, junto de meu pai, esperando o Erlon Chaves, que ao aparecer demonstrou tão pouca receptividade, que fez papai voltar silencioso para casa, em seu velho Austin of England.

Mamãe, neste tempo era professora primária, do Estado, e também muito criativa, ensinava História, tabuada, português, tudo cantado em versos através da músicas que estava na parada da época. Muito provavelmente papai deve ter confidenciado com ela sua frustração ao ir à TV Tupi, e como sempre ela deve tê-lo acalmado, carinhosamente. Não me lembro de vê-los brigando. Ele era espírita, ela católica. Não misturavam suas convicções, tanto que fiz todo o meu curso de catecismo, sem sequer imaginar que ambos possuíam crenças diferentes.

Havia mútuo respeito, algo tão necessário para os dias de hoje, onde cada qual tem sua verdade absoluta, prescindindo do outro, considerado inferior. Há mesmo uma demonização de quem é diferente, obviamente, de sua “santidade”. Deixa pra lá...

Meus dias de infância transcorriam alegres. Tinha o Colégio pela manhã, com matérias que a mim pareciam hieróglifos. Passava meus dias sonhando em sala de aula, distraído. Não me acostumava com o esquema de estar preso em uma sala por tanto tempo. Aprendia muito nos horários de recreio, mas de maneira em geral, não era um bom aluno, como aqueles que se vestiam bem, cabelos cortados à americana, e fixados com gumex (um gel daquela época), sentando-se nas carteiras da frente da classe, trazendo as lições de casa prontas, e principalmente, tirando boas notas nas provas mensais. Não; desde cedo fui meio revoltado, e sentava-me mais pelo meio da classe. Fazia tudo o que me pediam, misturado a uma série de outros sonhos muito distantes da realidade do estudo. Ao final meus trabalhos e lições de casa eram mal compreendidos pelos professores, mas apenas por mim.

Nas carteiras da frente sentava o Núncio, depois o Sabino e em seguida o Hildebrando, o “bandinho”, respectivamente os três primeiros classificados nas notas gerais. Depois vinha a turma do meio: o Ricardo Pugliesi, o “Risadinha”, o Renato Östernack, e eu. Por fim, sentavam-se os de notas piores, o “Caco”, o Júlio, e o Álvaro Leonel.

Era um beco sem saída, quando saíam as notas, pois tinha que levar a caderneta escolar para minha mãe assinar. Papai já não vivia mais neste tempo, tinha viajado para o céu em 1961, motivo de minhas revoltas. Não compreendia a sua morte, ou melhor, a própria morte.

Nunca olhei para a educação com a ambição de me aproveitar dela para ser grande nisto ou naquilo. Nunca a tratei como um objeto que se apropria para usufruir de benefícios materiais futuros, com projetos profissionais desvinculados de uma solidariedade universal, voltados exclusivamente para a realização pessoal, mas como fonte de conhecimento livre.

Adorava jogar futebol e taco na rua. Permanecíamos até o dia se pôr, ou, quando descia o Raimundo, o “louco”, que morava na ladeira José de Freitas Guimarães, no bairro das Perdizes, acompanhado de seu pai.

Raimundo, já adulto, quando nos via na rua, largava das mãos de seu pai e saía em disparada ao nosso encontro para ver se pegava algum de nós. Creio que ele queria brincar conosco também, mas pensávamos que ele vinha nos perseguir. Era um “pega pra capar”, como se diz na roça. Raimundo era rápido, e era um terror quando o avistávamos correndo ao nosso encontro. Fugíamos para a casa mais próxima, e lá permanecíamos até o perigo passar.

À noite repetia-se o figurino, com minha ida à cama mais cedo, e papai continuando a história do Urubuzinho.

- Mas papai, a Capivara Caolha Espirradeira não tinha medo da onça?

- Tinha sim, filho, mas ela era muito esperta. Na selva, o urubuzinho dizia que os animais eram bem mais espertos que na cidade. A onça vivia sempre à espreita de algum animal distraído que viesse da mata para tomar água no lago, para caçá-lo. A Capivara Espirradeira descobriu também que quando os pássaros paravam de cantar era porque tinha alguma coisa estranha. Daí, ela não saía de jeito nenhum da água, até os pássaros voltarem. Sabe, filho, na cidade tem gente parecida com a onça. Não procuram ninguém, ficam sempre esperando o erro das pessoas, então dão um salto, para pegar o seu lugar. Quando você crescer, você tem que se cercar de gente como o boi José e a Capivara Caolha Espirradeira, e evitar gente com a dona onça.

- Está bem papai. Vou ficar de olho como a Capivara, mas será que vou ficar caolho como ela?

- Não, caolho você não precisará ficar por ficar atento a estas coisas, mas vamos dizer assim, você deverá ter um olho interior para ver melhor as pessoas, suas características, para discernir quem é bom e quem não é, ou o que é bom de uma pessoas e o que não é bom da mesma pessoa.

- Discer...o quê?

-Discernir, filho, diferenciar, separar, saber como é cada pessoa. Porque a gente sempre tem uma idéia de alguém, mas depois de um tempo acaba tendo uma surpresa desagradável, e descobre que aquela mesma pessoa que você gostava, está lhe fazendo uma desfeita. Precisamos ter esperança nos homens, mas não podemos ser ingênuos, para não sofrer depois, entendeu?

- Entendi.

- Bem - comentou ainda papai - quando o Urubuzinho voltou, ele também me disse, que o Boi José e a Capivara Caolha Espirradeira estavam marcando uma reunião com a bicharada do lugar, para decidir um esquema de todos sobreviverem sem precisar atacar um ao outro.

- Mas isso é possível? Perguntei quase dormindo.

Lembro-me de papai afirmar, que não se soube por muito tempo de notícias de animais se matarem por aquelas paragens. Também, o Urubuzinho já tinha voltado do Mato Grosso e não chegou a saber se realmente aconteceu isto. Fica por conta de nossa imaginação.

Urubuzinho não tinha limites. Depois de tantas viagens e histórias, ele teve uma fixação própria dos urubus. Como se sabe, eles voam muito alto, a perder de vista. Pois bem, não é que um dia o Urubuzinho pensou em voar em direção do céu, sem parar?

É difícil imaginar que, um animal pode fazer o que somente os foguetes conseguem? Pois bem, o Urubuzinho sonhava com uma viagem celestial.



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