A primeira aula

Por uma série de razões estou iniciando o curso de teologia na PUC-SP, Campus Santana.

Fiz 5 anos de teologia para leigos no IDTEO, vinculado à Diocese do Campo Limpo, mas para os objetivos que persigo, não tinha nenhum valor, de forma que estou fazendo de novo.

De fato, isto não importa para o tema que escolhi, servindo apenas para localizar o leitor no porquê da escolha do tema "A primeira aula".

Sim, o fato de ter estudado este curso com outras nuances, e profundidades, pode estar concorrendo para esta dissertação, por ver certa repetição de assuntos e levantamento de expectativas que não possuo mais.

Ocorre que isto também me dá, procurando não ser soberbo, o que abomino, sentido mais crítico, e disponibilidade de arguição, que de outra maneira não teria.

Assim pude observar todas as primeiras aulas de meus professores de Introdução ao Pensamento Teológico, Metodologia Científica, Filosofia Antiga, História da Filosofia Antiga, Introdução ao Pentateuco, Hebraico, História da Igreja Antiga, Antropologia Filosófica, etc

Perguntas com pegadinhas,  chamadas às vezes de "te peguei desgraçado", ocorreram diversas, e todas elas com o objetivo de submeter o educando ao silêncio envergonhado, após responder erradamente, e até inocentemente, a questão.

Às vezes o professor pensa em quebrar paradigmas dos alunos nesta linha, em vez de questionar a dimensão do conhecimento mesmo, e não é por aí.

Não é por aí, não é mesmo?
Isto muitos fizeram e fazem.

O que querem, à parte toda a pedagogia libertária que apregoam, é submeter mesmo o aluno à sua posição de subalterneidade, para reforçar sua autoridade sem o uso da pedagogia, nem do conhecimento, mas da força autoritária.

Outros vem e se explicam como muito democráticos, mas que devido ao regimento interno da Universidade, terão que dar falta a quem não chegar pontualmente, e que dará uma tolerância de 15' no máximo, à partir do início das aulas, etc, etc...

Matérias não lidas terão desconto de tanto, participação em aula tem valor X, e assim para frente. Nesta parte, tudo bem, é bom ser disciplinado

Outros ainda, dizem que desejam que todos façam bastante perguntas, mas quando as pessoas começam a perguntar, ao se verem confrontados com as questões, começam a desconfiar de quem pergunta,  até demonstrando fisionomicamente ou corporalmente seu desgosto, que logo é notado pelo aluno, que acaba silenciando-se.

Poucos se abrem, ficam à vontade, e não impõem regras, tentando seduzir o estudante pelo gosto da matéria em si.

Estes são os melhores.

Há professores que fazem muita pose, dramatizam, mas não tem profundidade. 

Outros são observadores, e até críticos, mas como demodê, sem intenção de transformar coisa alguma.

É o crítico ordeiro, aparente, no fundo um reacionário, ou falso progressista.

Ah... a verdade está sempre com eles. Coitada da verdade.

Por fim vi uma palestra inteira do Vice-Reitor para todos os estundantes do Campus.

Falou com naturalidade e com boa capacidade de explicação, e defendeu num só tema várias questões, como o futuro, a escolha da profissão, a felicidade, o planejamento, e a motivação.

Tudo parecia perfeito, só que tinha um problema: o Vice-Reitor era uma pessoa sem sal, sem sabor, não demonstrando prazer no que dizia, tornando a apresentação extremamente enfadonha.

Dizia algo que todos viam que ele mesmo não acreditava, e portanto não fazia.

Os alunos, ainda num momento pré-político, apenas fizeram uma tremenda salva de palmas ao final, para demonstrar o quanto "gostaram".

Não tenho intenção de ser agradável a ninguém, em troca da verdade, ou da visão crítica.

Muito menos deixarei de ser alegre e sorrir só porque não gostam.

Afinal, como diz a comediante: "Eu Tô pagando!!", portanto continuarei perguntando e incomodando.

Os professores precisam se despir de si mesmos, e serem mais fraternos com os estudantes.

Acabarem com estas conversas de peixe morto.

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