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Ódio de classe ao motoqueiro

Vivemos num mundo cheio de ódio.

Ódio de toda espécie.

Não haveria espaço para falar de todos os tipos de ódio que observo no dia a dia, e também dos que me deixo levar, de vez em quando, querendo ou sendo levado a isto, tendo ou não razão(embora acredite que nunca se tem razão no ódio).

Falarei, portanto de um ódio de cada vez.

Hoje vou refletir sobre o ódio que se tem ao MOTOQUEIRO.

Sim, este personagem que encontramos nas ruas, quando estamos de carro, ou de moto(sob o ponto de vista de um  motociclista), ou à pé, ao atravessarmos as ruas, ou mesmo quando somos surpreendidos por uma moto na própria calçada.

O motoqueiro nos enche de ódio porque:

- Ele avança a moto e pára na frente do nosso carro, no farol vermelho, ocupando o lugar da frente que estávamos, na maior tranquilidade, como se fosse um direito adquirido. O pano de fundo deste ódio, é a competitividade capitalista, e o sentimento de ser o primeiro deixando os outros para trás.

- Ele buzina, aquela buzininha fina (desprezível diante do "meu carrão"), de surpresa, no meio fio da rua, para que abramos espaços para ele passar. O pano de fundo é o desprezo: "Quem ele pensa que ele é? O rei? para passar assim por mim?"

- Eles passam livremente no meio fio da pista, enquanto estamos parados nos congestionamentos, irritados. Como ele pode ser livre, se nós estamos aprisionados?

- Eles se ajuntam em grupos, quando tem algum problema, e vêm em cima de nós, sem piedade. "É bando agora?"

- Eles nos xingam quando estão com pressa, e estamos ou no meio fio da pista ou mudando de uma pista para a outra. Eles não têm a educação que eu tenho (como se eu não perdesse o controle também no trânsito)

- Eles são neuróticos e apressados, nos tirando do sério, e da nossa racionalidade. Como se eu não fose neurótico também no trânsito.

- Eles não querem saber se estão apertados e se espremem todo, no pouco espaço que sobra entre um carro e outro. "Que negócio é este de raspar no meu carro?"

- Eles gostam de estourar o espelho retrovisor, só de bronca de não abrirmos espaço para eles passarem. "Ele destroem e ninguém pega eles"

- Eles chutam a lataria da lateral do carro, para que saiamos mais para o lado.

- Eles aparecem quando menos se espera, ao atravessarmos a rua, nos dando um baita susto, se não formos atropelados, ou motropelados(inventei esta palavra agora). "Eles transgridem as normas de Trânsito"(o motorista é sempre o certo)

- Fazem ruídos com o motor da moto, como se este fosse estourar, só para nos apressar, ou apressar o sinal de trânsito, que não irá mudar só por causa deles. " A moto não é deles"

- Elas se ajuntam do lado de qualquer motoqueiro atropelado, e fazem de tudo para ajudá-lo, nem que isto signifique parar o trânsito.

- Eles fazem lobby dos motoqueiros, para se defender em qualquer situação.


Quem é o motoqueiro?

É um trabalhador super-explorado, que geralmente ganha ou por corrida ou por tempo de serviço, devendo ser uma pessoa extremamente rápida no que faz.

Ele faz os serviços que nós pedimos, porque temos pressa, mas nós os odiamos por nos atrapalhar na pressa, que os obrigamos a ter. 

Dá para entender?

Fora o ódio de classe mesmo, ódio rançoso, de achá-los uns pé rapados, que estorvam nossa superioridade quatrocentona.

Em minha visitas ao Hospital da Clínicas, no setor de Ortopedia, vejo que grande parte dos quebrados que para lá são enviados, são motoqueiros.

Geralmente são jovens, casados, e com filhos novos.

Fico olhando como esta profissão é perigosa, e quanto exigem deles, coitados.

Não têm futuro. Vão ser o quê no futuro? Gerente de motoqueiros? Supervisor de frotas?

O mais fácil é sair para outra alternativa profissional.

Minha sugestão:

Vamos nos libertar deste preconceito de classe transformado em ódio, e começar a enxergar virtudes neste irmãos das ruas.

Muito ao contrário, que tal sermos solidários em suas lutas por uma profissão mais digna e menos perigosa?

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