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A ambigüidade em que não me explico.

(Prosa-poética filo-teosófica)

Todas as vezes em que me sinto íntegro,
com a situação resolvida,
tenho uma leve sensação de exterioridade,
desconhecimento.

Como se junto à conquista
viesse um prazer funesto, falso,
em que me iludo de mim, vencedor.

Uma verdade no indigente
me faz desejar ser indigente:
não ter mais do que cair.

Por isso se sorri, sorri,
se chora, chora.

As coisas no real, no seu devido lugar.

Logo me dou conta
de que não sou nada,
um pó da estrada,
e mergulho novamente
em questionamentos
que mostram a exata
medida de meu ser:
alguém por ser descoberto,
ainda que com identidade.

Percebo faltar o chão, embora de pé,
decisão, ainda que buscando,
falar, junto a tantas silenciosas reflexões.

Há algo indecifrável em mim
 que não se explica,
questionando-me,
a existência e a inexistência.

Algo ilocalizável, impalpável, inidentificável; há!

Algo ou alguém...
se alguém?
então seremos
nós desconhecidos,
não psicóticos,
mas inconscientes;
mais eu, dele.

Se há Ele?
então é provável
ser mais consciente de mim,
pois não invade,
apenas deixa acontecer,
tecendo misterosamente
virtudes inacabadas.

Sinto-me em eterna segunda-feira,
despreparado para a semana da vida,
enfastiado do domingo,
ausência de tarde eterna.

Acendo uma vela,
coloco-me em silêncio
em meu quarto.

Não me agrada naturalizar a Deus,
tratá-lo como flores, e montes, e sol e luar,
(como diria Pessoa).

Nem me esvaziar em oriental reflexão
para fazer enfim desaparecerem
todas as sensações,
como se a verdade
emergisse do nada.

Do nada
não se chega
a coisa alguma.

Se há, deve ter inteligência e ser dialogável.

Se não,
assopro a vela,
e abro os olhos ao mundo.

Certamente é mais real.

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