Um sábado paulistano





Acordei tarde neste sábado nublado de 06 de novembro de 2010, pelo menos 1 hora atrasado. Meus olhos nublados da noite enxergavm 7 horas no despertador (que nunca aciono), e já eram 8. Meu primeiro pensamento foi o de que perdera meu curso Propedêutico (preparatório ao Diaconato), aos sábados pela manhã, mas Meg, minha esposa, que não consegue refazer-se de uma dor de cabeça constante, me encoraja a ir, mesmo atrasado.

Não sem antes sair com o meu bebê, um Pit bull de onze anos, black nose, super dócil, que reparte os espaços do Apê conosco. Aproveitei para comprar pão na padaria e pegar o jornal para ler durante o café.

 Ah, o cocô do cão, eu sou educado e o recolho antes que caia no chão, colocando-o depois na primeira lixeira que encontro. Se eu soubesse o trabalho que dá ter cachorro, certamente eu teria menos cães. Mas não importa, comprei o pão e ao sair, assisti a uma briga matutina, entre dois jovens, em plena rua Barra Funda.

Não sei as razões, mas um fugia enquanto o outro tentava meter o pé no peito do que se esquivava. O que fugia escondeu-se numa loja que já abrira, o que lhe protegeu de algo pior. Mas o perseguidor, enfurecido ficou na porta esperando. Não permaneci para ver, nem a briga foi no meu alcance de ação, pois ocorria a certa distância

Comentei com um transeunte o fato e concordamos tratar-se de um verdadeiro atraso de vida este tipo de comportamento.
- Não leva a nada - me disse.
Respondi-lhe - Só com a idade a gente vai acalmando certos ímpetos.
Sorrimos experientes.

Peguei o jornal e voltei apressadamente para tomar o café em casa, arrumar-me, e ir ao curso o quanto antes. Tem um ditado, daquelas leis de Murphy, que é mais ou menos assim: "Você planeja 90% o tempo e realiza 90%, e os outros 10% você leva outros 90%".

Estava acontecendo exatamente isto comigo, isto é, o meu atraso já consumado, estendia-se cada vez mais. Era como se eu estivesse querendo encontrar alguma razão para não sair. Meg, entretanto, sempre faz o papel do meu lado responsável, que me lembra dos compromissos, e lá fui eu para o curso Propedêutico para o Diaconato Permanente (católico, é claro).

Os diácono existiram logo no início da Igreja, e Estevão, primeiro mártir da Igreja, era diácono. A razão de sua morte à pedradas pode ser encontrada no seu discurso, nos Atos dos Apóstolos, onde afirma que Deus não precisa mais ser encontrado no Templo mas em qualquer lugar, e dentro de cada um.

Isto incomodou enormemente os judeus da época, que tinham todo um calendário de atividades religiosas e também de recolhimento das conribuições no templo, e ficavam com receio do povo começar a evitar o templo, e....ficarem sem dindin.

Depois, havia também um compromisso de partilha destes bens com os romanos. Bem chega por aqui, senão vou ficar fazendo proselitismo religioso, e não é o caso.

O dia estava chuvoso e corri para pegar o Metrô meio vazio, com duas lâmpadas internas queimadas(lembrei-me que houve um tempo que uma situação destas, era motivo de se recolher o trem para revisão),

Noto que o povo, de um bom tempo que não sorri. Anda circunspecto. Acredito que não é só encher barriga e dar casa. É preciso ser solidário e amoroso, e vejo que a rudeza ocupa maior espaço que a alegria.

Isto me incomoda. Assim, sempre que posso, tiro as pessoas de seu imobilismo servil e procuro injetar-lhes questões e idéias. Sou de um tempo em que nós, quando jovens, acreditávamos que conseguirímos mudar o Brasil. E mudamos. O Lula e a Dilma não estão aí? E eles não surgiram do nada, mas de uma luta que vem de gerações.

No curso, discutimos algumas deliberações do Concílio Vaticano Segundo, que se mantém bem atuais. Refletimos, particularmente a questão do ecumenismo, sermos todos os habitantes do mundo. A Grande Comunidade.

Voltei para casa. Meg estava faminta e fomos ao boteco do Homero, na Rua Barra Funda, comer uma carne brasada. Somos bem simples e nos satisfazemos com pouco e barato. É melhor, as pessoas são mais verdadeiras, e é uma alegria fazer isto aos sábados.

Depois fui descansar 1/2 hora, e saí para fazer minha Pastoral da Saúde no Hospital de Clínicas, como sempre, aos sábados à tarde, na Ortopedia.

Hoje, como fomos pegar um jornal na capela, que fica no prédio central, passamos pelo PS, que estava lotado de pessoas em macas. Por pena de uma moça que chorava parei, eu e uma amiga, a Margot, a quem tenho um carinho especial,  e ficamos um pouco com ela. Depois oramos juntos.

Esta minha amiga, que participa conosco, teve alguma influência exotérica, o que é comum nos dias atuais, e sempre que pode, impõe as mãos em todas as pessoas que encontra, e que concordam com isso.

Não faço nenhuma reprimenda porque não gosto de reprimir, mas conscientizar. Sei apenas que devemos ter abertura para agregarmos as pessoas, em vez de nos seprarmos. Assim, ela tem toda a liberdade de fazer o que pensa ser correto, sem escandalizar o enfermo, porque, para nós o principal é o estar junto, o ouvir, o aprender. Se houver espaço, então falamos.

Na ida ao Hospital, meu carro parou num sinal vermelho, quando 4 judeus, daqueles bem ortodoxos, com chapéus e cabelos encaracolados, passaram por mim. No carro ao meu lado um casal comentava curiosamente o estilo diferenciado daquele grupo. foi quando percebi que preso ao espelho retrovisor do interior do automóvel, tinha nada menos que um cacho de pimentinhas vermelhas. Pensei comigo mesmo, como o Brasil é miscigenado religiosamente. As pimentinhas representam "proteção" contra "más energias". Certamente a espiritualidade o casal é em parte "Nova Era", e sei lá o que mais...como é a cabeça deles

Voltei para casa, e preparei as músicas par a missa de amanhã na Igreja de São Geraldo. Amanhã a homilia vai falar do Sermão da Montanha., e as bem aventuranças.

Vou tentar ser pobre de espírito!

Bom fim de semana a todos.

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