Tenho pressa


Tenho pressa

O tempo corre,
envelheço,
enquanto assisto,
sem impedir,
os acontecimentos
se sobreporem
a tudo.

Observador impotente
respondo com a letra,
palavras
versos.

Mas o mundo
não ouve,
não vê,
não se reformula.

O mundo me considera prepotente
diante de sua escolha torta.

O mundo caminha
como gado
ao matadouro.

Políticas sociais,
ecológicas,
econômicas,
passam rente
às soluções
esperadas.

Não atingem,
acumulam.


Estou envelhecendo
e restam poucos dias
para tentar mudar
o escândalo
da pobreza
do enfermo esquecido,
da criança órfã abandonada,
da mulher abusada,
de tantos
a cada momento,
que me esqueço de ver
e me endureço no sentir.

Mundo que às vezes
me vence.

Meus cabelos cairam,
a pele deixou de ser lisa e bela
a face não se olha
mais no espelho.

Tenho na reflexão
um derradeiro recurso
diante do despencar deste mundo
frio e egoísta.

Mas, como erva daninha
continuo ferindo a morte
que não se mexe.

Como andorinha matinal
acordo a cada dia
cheio de esperanças,
 disposição,

Como um leão
guardo o rugido maior
para o momento propício
de espantar o pior.

Como eu mesmo
sigo e sigo
sem olhar para o lado,
como um guerreiro suicida
que acredita na vida.

(hoje, deixo o coração falar por mim)

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