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As pedrinhas dos nomes novos


Nos espaços abertos sob um viaduto da grande cidade, onde os abandonados se ajuntam em meio às folhas de jornais, que servem de coberta nas noites frias, viveu um menino.

Nunca se soube de seu nome verdadeiro, talvez José, ou João, nem se teve notícia de quem eram seus pais. Por isso os moradores de rua o apelidaram de Fininho, devido ao seu corpo franzino, e como é o costume de nomearem os colegas, que não gostam de ser identificados.

                                                       
Tinha aparecido num destes dias de chuva, com tempestades e inundações, quando o índice pluviométrico excede em muito as quantidades de água previstas para o mês, e as pessoas são obrigadas a se proteger no primeiro lugar que encontram.

Como aquele viaduto estava próximo, protegia todo tipo de gente, embora os deixando apertados, por falta de espaço. Do lado de fora, duas cachoeiras desciam em enxurradas pelas vias laterais, inundando as ruas adjacentes. O asfalto e o cimento rendiam-se à natureza, que reclamava por terra e árvores.

Foi assim que apareceu Fininho. Aparentava uns 12 anos de idade. Vestia uma camiseta rasgada e suja, calção e tênis velho. Trazia ainda alguns apetrechos em uma sacola que carregava consigo.

-Era um pivete-, diziam as pessoas.

Quando os relâmpagos passaram a ressoar em estrondos cada vez mais fortes, dando a impressão de atingir o primeiro que estivesse na frente, e a chuva formava uma cortina de água, Fininho surgiu.

Veio andando. Dava a impressão de não se importar com a tempestade, íntimo como a uma amiga. Nem lhe incomodava estar molhado, resfriar-se.

Era como se tivesse descido pelo raio. Não fosse seu jeito magro e sujo, e todos pensariam ser um milagre. Desvinculavam, portanto, um fato com o outro, tornando a surpresa algo normal.

Logo, estava ali aconchegado a um cantinho, de forma que ninguém se incomodou com sua presença.

Mas diziam, - Como pode um pai deixar o seu filho sair sozinho por aí, num dia de chuva como este?

-Que pai mais desnaturado? Como pôde abandoná-lo, assim, no meio da rua, com tanta gente má? Em plena véspera de Natal?

-Será que Deus faria assim com um filho seu? - interrogavam-se.

Mas, aparentemente, Fininho não trazia expressão de raiva, ou tristeza; antes parecia achar natural estar ali, e acolhia bem quem se preocupasse consigo. Depois que a chuva parou, permaneceu.

Conheceu os moradores do local: Pedro, um pequeno proprietário rural, que veio do Nordeste e acabou não voltando; Marcos, mineiro, que foi arrancado da família pela “marvada” da pinga; Luiz, um ex-caminhoneiro, e outros mais. Cada um tinha uma história muito interessante.

Foram pessoas importantes, como se diz, quando se referem a algum bom profissional nisto ou naquilo. Mas, por alguma razão, encontraram fortes problemas pela frente, e não resistiram, acabando por viver na rua.

Haviam perdido algo essencial em suas vidas: não acreditavam mais em si mesmos, em mais nada. Haviam perdido o interesse por tudo, e passavam o tempo se esgueirando pelos becos, maltrapilhos e desprezados pelas pessoas.

Em conseqüência, afastavam-se de todos, perdendo o pouco de auto-estima que ainda lhes sobrara. Alguns mendigavam como se estivessem doentes, cegos ou paralíticos, ainda que não fossem assim, mas incorporavam.

Outros conseguiam resgatar uma rotina de sobrevivência que os mantinha em atividade. Catavam papelão ou latas de metal para vender em algum depósito, mas lhes pagavam uma ninharia por tanto esforço, que parecia uma tarefa inglória.

Com bebidas e até drogas, buscavam vencer o frio da madrugada, viciando-se até ficarem caídos pelas calçadas. Estes últimos eram os que estavam em situação mais lastimável. Os que passavam pelas calçadas sentiam repugnância ao cruzar com eles, devido ao estado de abandono em que se encontravam, com seu jeito cambaleante e o falar mole.

Não raro, abordavam os pedestres com tal ousadia que, para se livrarem do desconforto, davam esmola, para se verem livres. Faziam de propósito, pressionando através da repugnância. Demarcavam propositalmente uma distinção que a sociedade não quer admitir: os párias versus o mundo organizado.

Mas engraçado, Fininho não se importava com estas coisas, e os tratava como a mesma importância que a qualquer um que encontrasse. Por isso, logo foi aceito pela maioria, que o recebeu como a um amigo. De sua parte, também aceitou aqueles com quem queria conviver.

Era véspera de Natal. Fininho observava como as pessoas andavam apressadas pelas ruas, racionando os gastos para a festa da noite: presentes, alimentos, tudo para ter a família reunida. Carregavam vários pacotes, olhando para os lados com medo de serem assaltadas. Era um tempo de muita insegurança.

Em meio a tantas providências, não se apercebiam do mais importante: a própria comemoração do Natal, o nascimento de Jesus.

Este, como todo mundo sabe, ocorreu em um local simples, com o menino colocado sobre uma manjedoura, onde se alimenta o burrinho, a vaca.

Assim, parecia-lhe estranho tanta movimentação de compra, para lembrar-se de alguém, que nem tinha lugar para nascer. Se compreendessem a proposta de humildade que envolvia este acontecimento, estariam tão voltados aos bens materiais?

Percebeu também, que tanto seus amigos da rua quanto a pessoas que passavam apressadas tinham algo em comum: Não eram felizes. Havia um grande vazio.

Não conseguiam alterar seus esquemas e formas de fazer as coisas. Não rompiam com as estruturas que os prendiam. E teve pena, porque ocupavam-se com tantas coisas, mas esqueciam de ser simples e solidários. Era mesmo muito estranho.

Para não ser injusto, observou um pequeno brilho, quase imperceptível, estampado nos olhos daquela gente. Eles deixavam uma leve impressão de ter esperança. Algo difícil de dizer, ou explicar, mas estava lá, misturada entre a pressa e as estruturas, estampada nas expressões faciais.

Era um pequeno brilho nos olhos, um brilho diferente. E como se diz que “os olhos são a janela da alma”, havia algo de bom, de belo, para o lado de dentro daqueles olhares, que refletia assim.

Percebera que ainda havia uma solução.

Por isso decidiu participar ativamente daquela festa, apesar da dificuldade para reunir os convidados. Havia uma porta semi-aberta, por onde as pessoas poderiam refazer suas vidas.

Propondo-se arrumar presentes para os convidados, Fininho fez um pequeno saco com o pano e o barbante que guardara na sacola, e preparou-se para encontrar pedras, pequenas pedrinhas. Sua intenção era utilizá-las como presente.

Achá-las seria difícil, porque a cidade estava coberta de cimento e asfalto, nos prédios e grandes avenidas, existindo poucos lugares abertos, praças ou locais em obras, onde pudesse achá-las.

Como presente, uma pedra talvez tivesse pouco significado, um enfeite, um peso para fixar papéis, não havendo maior utilidade. Não estava claro o que pretendia com isto, o menino.

Seria uma forma de participar de um acontecimento ao qual ele não tinha nada a oferecer?

- Cada pedrinha – considerou - tem a sua beleza própria, como cada indivíduo é único. O importante é adequarem-se.

–Assim, poderei entregar um presentinho bonito e próprio para cada um dos meus amigos

Era tarde do dia 24 de dezembro, as pessoas ainda corriam apressadas atrás de lembranças para convidados de última hora, e para completar os condimentos e enfeites natalinos.

Fininho saiu pelas ruas em busca de uma praça, uma obra onde pudesse encontrar seus presentes. Caminhou a distância de dois bairros até chegar ao centro. Lá encontrou um caminhão basculante virando uma caçamba cheia de pedras. Estavam terminando a preparação para o capeamento de asfalto de uma rua.

-Levanta mais a caçamba, que ainda tem pedra aí em cima, - gritava o ajudante ao motorista- porque eu moro longe, e ainda tenho que pegar o ônibus para chegar em casa. Vamos depressa!

Fininho parou e ficou observando até descarregarem toda carga. Tão logo saíram, dirigiu-se ao local, agachou-se, abriu seu saquinho, e iniciou uma coleta seletiva.

Cada pedrinha guardada era tratada como única. Parecia estar sendo garimpada. Nos cuidados que cercava cada escolha, esta deveria esculpida pela própria natureza, sem interferência de mão ou tecnologia humana. O tamanho poderia variar desde que não fosse pesada, para caber no seu saquinho, e até para carregar, por causa do peso. As cores também poderiam ser de todo tipo, nas suas mais variadas tonalidades.

Desta forma foi escolhendo umas e descartando outras. Procurava ser rápido, pois restava pouco tempo para voltar ao viaduto. Após escolher sete pedrinhas, partiu.

Pelo caminho fez a seguinte oração:

- Paizinho, todos estão muito ocupados em festejar o Natal, e não sabem o que significa a encarnação de Deus, ou talvez, não acreditam. Presenteiam-se uns aos outros reforçando seus elos de amizade. Isto é bom, mas infinitamente menor do que poderia ser. Gostaria de transformar esta festa, com Tua ajuda. Peço-Te que derrame sua Graça sobre cada uma destas pedrinhas, dando-lhes o poder de reviver os que forem recebê-las. Que possam tornar-se novos homens, e novas mulheres. Sabendo que o Senhor nunca falta aos meus pedidos, agradeço. Amém.

Fez a oração de uma vez confiantemente, pois considerava falta de fé as repetições. Apressou o passo, acreditando ter sido atendido na oração. Agora a responsabilidade de realizar o que pedira dependia mais de si.

A oração o manteve num estado de torpor durante o trajeto de retorno ao viaduto. Como se houvesse a sobreposição de dimensões, teve a sensação de que o tempo tivesse parado. As folhas das árvores bailavam num ritmo de harpas, assimilando a melodia do vento, as estrelas piscavam silenciosas, convidando à reflexão, uma paz celestial revestia a realidade do caminho tornando-o manso e suave.

- Como Deus, tendo poder sobre tudo - meditava- pode depender deste seu pequenino. Que honra poder participar desta festa!

As ruas estavam vazias e os ônibus escasseavam. As portas das casas fechavam-se, e as famílias estavam reunidas. Uma contagem regressiva palpitava os corações, incompreendidos pela razão, que mantinha posturas.

Eram 23h30min. Como combinado, chegou a tempo de encontrar-se com os amigos no viaduto. Cada um trouxera algo para comemorar juntos: alimentos recolhidos durante o dia, um vinho, panettoni que receberam de pessoas caridosas, alguns doces. Tudo reunido sobre uma folha de um jornal.

Acenderam uma fogueira ao lado, para clarear o local, e sentaram-se ao redor. Permaneceram em silêncio. Não ousavam falar, aguardando quem dirigisse a palavra. A ansiedade inibia a oração.

A chuva se dissipara, e as primeiras estrelas apontavam no céu, escondidas entre as nuvens.

Fininho levantou-se e disse.

– Será possível Jesus estar junto do Pai neste instante, e continuar a ser um Deus bebê, como o vemos no presépio?

Após um instante, riram com a pergunta, pelo inusitado da questão, e iniciando a refeição, comentavam que sim, era perfeitamente possível Jesus ser para nós hoje um Deus Bebê.

Diziam isto, não por conhecimento teológico, mas por acreditarem que tudo é possível para Deus. É uma questão de fé.

-Que mensagem será que Ele nos passa, de dentro de uma manjedoura?- acrescentou.

Novo silêncio.

Bem – Pedro tomou a iniciativa - eu acho que deve ser semelhante ao nascimento de toda criança.

Como assim?

- Bem, quando nasce um bebê, os pais não depositam suas esperanças nele?

-Não deixam de pensar somente em si mesmos, e começam a fazer de tudo para aquela criança? – completou.

- Então?

- Então, com o nascimento de Jesus é a mesma coisa, quer dizer, toda a humanidade pára no Natal, para depositar suas esperanças neste bebê, que chegou.

- Muito bem Pedro – disse fininho.

– Por você ter descoberto uma parte do segredo do Natal, eu te dou uma das pedrinhas que tenho - e revirando o fundo da sua sacola, pegou o saquinho de pedras, abriu, retirou uma pedrinha cinza, e entregou-a a Pedro.

- Esta pedrinha cinza, Pedro, representa a capacidade de abrir mão de si mesmo, em favor dos outros. Ela trará um pouco da dor que se tem ao abandonar os projetos pessoais para outro ser feliz. Dor que não dura muito, porque a alegria de servir é infinitamente maior. Morre apenas o egoísmo. Feliz Natal!

- Obrigado, Fininho – agradeceu Pedro, sem entender muito – eu acho que não fui de pensar muito nos outros, mas vou guardar esta pedrinha comigo.

Fininho completou.

- Pedra de Serviço, receba agora um coração voltado para o próximo.

Nunca mais Pedro teria aquela expressão fechada, resultado de tantas derrotas. O frescor da noite o convidava a renovar seu caminho, sendo a fronte aberta um convite para retomar a vida, porém em moldes novos.

Marcos, um mineiro de Montes Claros, a Princesinha do Norte, era outro morador do viaduto. O abandono de sua esposa levou-o a viciar-se em bebidas alcoólicas, deixando tudo para trás, e cair no mundo. Era difícil o dia que Marcos não se embebedava.

Quase não ganhava esmola, porque as pessoas desconfiavam que ele iria comprar pinga. Às vezes apagava, de tanto beber, dormindo quase todo o dia. Aí roubavam seus poucos pertences, quando não apanhava, ao ser roubado. Mantinha, entretanto uma atitude pacífica com todos, pois já conhecia as leis da sobrevivência nas ruas.

- Não quero me lembrar de tudo o que passei, Fininho – indagava. –Também não quero saber o que vou passar.

Fininho estremeceu com a falta de perspectiva de Marcos e disse.

– E você, Marcos, o que diz sobre a mensagem que vem da manjedoura?

- Não sei – parou para pensar – acho que um bebê tão pequenino não tem condições de ser Deus. Ele é muito frágil e dependente. Só se for isto que Ele queira dizer, isto é, que Ele precise de mim, para sobreviver, para crescer. Mas acho isso difícil, porque eu não sou nada, apenas um bêbado abandonado.

- Muito bem, Marcos. Por ter decifrado que Deus precisa mais de nós do que nós dele, eu vou te dar uma pedrinha.

Fininho abriu seu saquinho, tirou uma pedrinha verde, e entregou-a a Marcos.

- Sabe – continuou - Deus precisa de você para morar em seu coração, sua mente. Precisa de você para ir pelo mundo, transformando-o. Lógico, Ele tem poder de fazer o que quiser, sem nenhum de nós. A questão é, que Ele deseja realizar a sua obra através de nós. Ele não é exclusivista. Os santos que o digam!

- A partir de hoje você se chamará Marco da Prontidão, porque a vida te ensinará a conhecer o que Deus quer de você. Você, Marco da Prontidão, ouvirá a voz dos anjos ao amanhecer, antes de acordar. E será enviado a grandes missões.

Marco recostou-se no muro do viaduto, e ficou admirando a pedrinha verde, sem entender a qualidade exaltada pelo menino. Em poucos minutos, dormiu.

Assim, Fininho foi perguntando, presenteando, e nomeando cada um dos moradores do viaduto.

Pedrinha azul para o Luiz, ex-caminhoneiro, chamado agora de Luz do Caminho, pois se lembrara das constantes fugas do Deus bebê, desde cedo perseguido.

Sentia-se também perseguido e discriminado sem motivo; solidário, portanto, com o Deus bebê, que também fugiu para que nada lhe acontecesse.

- Quem diria – disse - o Caminho também comporta fugas...

-Quando adulto, o Deus bebê não fugiu mais – respondeu Fininho - mas enfrentou seus perseguidores, pensando em você hoje. Compreende isto?

Luiz expressou dúvida, mas entendeu que aquela reflexão dizia para ele retomar um caminho verdadeiro, engatar uma quinta marcha, em vez de permanecer estacionado sob um viaduto.

Pedrinha branca para o João, chamado João da Paz. Pedras de todas as cores e tipos, até acabarem-se. Foi uma noite singular. Cada um descreveu o Deus bebê de modo particular e rico.

Por fim, Fininho guardou seu saquinho na sacola, voltou-se para os convidados, e disse:

- Vocês não rejeitaram nenhuma das pedrinhas. Obrigado, por receberem com tanta abertura as pedrinhas dos nomes novos. Elas são simples, como Deus bebê quer que sejamos. Agora é possível reconstruir a vida numa dimensão nova, como nunca se viu antes. Onde as lágrimas não mais existirão, e a verdade, a alegria e a justiça sejam uma constante dos nossos dias. Deixem que esta noite produza esta grande novidade em seus corações. Deixem a Graça acontecer.

Dormiram imaginando ter sido tudo um sonho, em noite de paz celestial.

Ao amanhecer, Fininho não estava mais lá. Havia partido.

O que acontecera, teria sido efeito da bebida? – Comentavam.

- A aparição de um anjo de Deus? O próprio Deus jovem? Guardaram com eles este mistério. Mas caminhavam diferentes, agora. Haviam percebido que eram especiais.
Conto de Natal de 2010 que apresento aos amigos, resgatando data tão comercializada e descaracterizada

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