Pular para o conteúdo principal

O LIMIAR DA DEMOCRACIA FORMAL






"A democracia é uma igualdade formal, que esconde uma desigualdade coletiva".

Este pensamento deve ser a referência de toda esta reflexão. As elites retrógradas atiçam um golpe para defenderem a democracia formal, e assitimos a reedição de antiga novela.

Qual será o final, não hoje, mas nos próximos anos? Vamos refletir....

O Brasil tem uma experiência democrática sui generis, por tratar-se de um país continental:

1) É tipicamente presidencialista, pois o poder se esvaziaria em descontrole desordenado, caso o parlamento chamasse para si o governança.

2) É massivo, isto é, basea-se no voto obrigatório universal, representando a obrigatoriedade da participação, o que leva, junto a outros fatores,  a envolver o conjunto da população, de alguma forma, nas decisões, desde as nacionais, até as locais.

3) É carismática, mais do que partidária, significando a dificuldade de se abranger grandes contingentes da população sem formação política. "Os Brasis" regionalizados dificultam o acesso à formação e propaganda políticas.

4) Já não mantém, mas manteve a tutela das classes dirigentes, que se perpetuaram no poder desde o Império, através do coronelismo e do voto à descoberto, na Primeira República, e encontrando já dificuldades de controle social, à partir da Segunda República, onde a participação popular passa a ter um papel novo importante, e a hoje com seu protagonismo.


À partir da Segunda República, a democracia formal brasileira estabelece limites para a participação popular: O suicídio de Getúlio Vargas, o Golpe militar de 64, e a ditadura que se estabeleceu por décadas, são a expressão desse limite.

Percebendo o poder escorrer por entre os dedos, as elites tradicionais, que se estruturavam em partidos com identidade clara, passam a se ver desmascaradas, e partem para a busca de uma nova roupagem, de cunho social, acompanhando a crescente participaçao do povo

Esta participação popular, historicamente sempre teve limites, conforme a sua maior ou menos amplitude.

Daí o pêndulo entre ditaduras e democracia, desde 1930.

Este ciclo helicoidal adquire contornos novos a cada vez que se realiza.

Nos anos 50, no pós guerra, a influência do socialismo vitorioso, trouxe muita esperança ao povo brasileiro, avançando em conquistas sociais, como a nacionalização da Petrobrás, e a defesa do subsolo, e até a industrialização, com Juscelino.

O golpe militar de 64 interrompe este processo progressivo de participação social, e procura encontrar alternativa legal de existência, que não ocorre, levando a uma perpetuação do autoritarismo, desta vez com um cunho de dominação maior e integrado a um cenário de dominação do império norteamericano.

O processo de retorno à democracia foi ordenado e dentro de marcos, pode-se admitir, legais, o que não escondeu a realidade da pressão popular que se acumulou nos anos de chumbo e encerrou um período militar, que, por seu turno, havia adquirido o gosto pelo poder, alterando até mesmo o seu papel estratégico de poder moderador.

O aparato repressor saiu do poder sem arranhões, como que dizendo; "cumpri meu papel, agora cuidem direito, senão..."

Hoje assitimos a avant premier destes lances a se repetirem.

Filmes já tantas vezes assistidos, cada vez com uma forma maior de tragédia.

Serei mais claro.

A vitória de Luiz Inácio da Silva, O Lula, ao poder presidencial, deu início a uma nova forma de se fazer política no Brasil, atraindo grandes contingentes sociais para o mercado de trabalho e de consumo, e representando uma modernidade de tipo social.

É o que podemos dizer, a introdução de uma característica nova de democracia, a DEMOCRACIA SOCIAL, OU POPULAR, retirando o aspecto elitista da política e abrindo definitivamente o país ao seu povo.

As elites que entenderam esta mudança que ocorre nos marcos de um desenvolvimento econômico com distribuição de renda e participação social, arrumaram as malas e embarcaram nesta viagem, para continuar tirando proveito e sobreviverem no novo modelo que se estrutura.

Agora, aquelas elites clássicas, que estavam na velha e carcomida UDN, e depois na ARENA, no PDS e agora DEMO  e PSDB e também os VERDES, são setores que desejam o desenvolvimento sem distribuição de renda e participação social. Daí o ódio concentrado no PT, ao PC do B e outros que simbolizam a abertura desta porteira.

 O momento é de atenção, convite ao golpe de estado, diálogo de surdos, um ao outro se acusando de totalitários.

Existem condições para um golpe de estado no país?

Talvez não hoje, mas antes dos golpes que ocorreram, também aconteceram vários ensaios.

Por isso, este fenômeno eleitoral de conflito traz um componente novo, para nós que cuidamos com carinho da vida democrática que temos, nós que vivemos sob a ditadura e não a desejamos para ninguém.

Vemos a roda da História mover o pêndulo para a ferrugem.

É momento para se elevar a qualidade e a intensidade da participação popular, para não só frear a arrogância golpista, mas, principalmente para alcançar um novo modelo de democracia, que supere o Brasil do atraso, o Brasil antigo, e adentre o país no mundo, como liderança de fato, sustentado pelo seu povo, reconhecido e aceito pelo seu povo.

Por uma Democracia com distribuição de renda!

Democracia do Povo!

Fora com as elites retrógradas e atrasadas!

Viva o Povo Brasileiro!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".

Hoje quero fazer memória a um grande herói da Históra do Brasil, o frei Giorgio Callegari. Gosto muito do monumento ao soldado desconhecido, porque muitos heróis brasileiros estão no anonimato, com suas tarefas realizadas na conquista da democracia que experimentamos. Mas é preciso exaltar estas personalidades cheias de vida e disposição em transformar o nosso país numa verdadeira nação livre. Posso dizer, pela convivência que tive, que hoje certamente ele estaria incomodado com as condições em que se encontra grande parte da população brasileira,  pressionando dirigentes e organizando movimentos para alcançar conquistas ainda maiores, para melhorar suas condições de vida. Não me lembro bem o ano em que nos conhecemos, deve ter sido entre 1968 e 1970, talvez um pouco antes. Eu era estudante secundarista, e já participava do movimento estudantil em Pinheiros (Casa do estudante pinheirense - hoje extinta), e diretamente no movimento de massa, sem estar organizado em alguma escola,