Os amigos do Pó das Estradas devem ter estranhado a ausência deste pó, que esteve em outras paragens "esquecendo-se da vida", sem escrever, como podemos dizer...em férias. Sim, ,fui para Ubatuba, pequena cidade litorânea do norte paulista, que nas temporadas é estuprada pelos visitantes provindos de São Paulo, interior, e Vale do Paraíba(principalmente Taubaté).
Digo estuprada porque o número de habitantes praticamente triplica, e isto provoca uma revolução profunda no "modus vivendi" da população local. Mudança violenta no consumo, alterando preços de produtos em proporções razoáveis, para equiparar aos preços dos grandes centros, afetando o orçamento de todos os moradores da cidade, que não tem nada com isso.
Alterações morais, porque a cultura pós industrial é voraz e amoral, enquanto a cultura de folk ali presente, é extremamente religiosa, com forte tradição (a Festa do Divino lá, que acompanhei por duas semanas, tem 144 anos - acreditem se quiserem), e conotações evangélicas recentes, mas com grande influência na população, tendo eleito o prefeito local, que conseguiu criar tal confusão na sua gestão que acabou por ter de mudar-se para São José dos Campos (não mora mais na própria cidade).
Lá os evangélicos pensavam que com uma liderança deles na prefeitura, "Ubatuba seria do Senhor Jesus". Agora, percebem, que eles são também como aqueles que eles criticavam, e que somos realmente muito parecidos, com acertos e falhas. Agora devem reiventar nova fórmula para justificar o assédio, ou porque não, a "idolatria" do poder.Entretanto, isto mostra a faceta de isolamento que aquela sociedade local tem.
Por sinal, Julho é, vamos dizer assim uma baixa temporada, com menos turistas. A maior parte vai para Campos do Jordão, clima de serra, estas coisas, e o litoral fica relegado. Mas, para quem esteve em Ubatuba, como eu, foi a glória pois andei de bicicleta todos os dias. Vocês sabem o que é buscar pão de manhã, de bicicleta? E o silêncio da noite, na hora de me recolher, sem nenhum ruído escapando pelos vãos das nossas janelas urbanas? Até o meu cachorro ficou mais tranquilo, e olhe que é um pitbull. Ainda existe um Brasil preservado e graças a Deus, esquecido neste emaranhado de gente, perdão, pessoas. Gente é o que Fernando Pessoa procurava.
Durante toda a temporada tive a sensação de que a cidade estava vazia. Entretanto, ao tomar o ônibus para voltar para Sampa, qual não foi minha surpresa ao defrontar-me com um baita congestionamento na Dutra. Perguntando, com estranheza ao motorista, o motivo de tal movimento, este disse-me que Ubatuba é uma cidade muito espalhada, que não fornece uma visão real de quantas pesoas estão por lá. Concordei. Já não cabe mais gente em lugar nenhum. São Paulo sai de feriado, e não esvazia mais, esta é a verdade.
Em minha memória, lembro-me do falecido General Zerbini, meu padrinho de casamento, que dizia ter montado tocaia com duas metralhadoras, na entrada do pequeno porto de Ubatuba, e assim ter frustrado a entrada de tropas federais, quando da revolução de 32. Sabem quem estava com ele na ocasião? Seu colega Assis Brasil, que viera do Rio Grande do Sul para ajudá-lo. Tornou-e ministro da Guerra de Jango, e morreu pobre, fiel até o fim. Dizem que devolveu a aposentadoria a Castelo Branco.
Chegando em Sampa deparei-me novamente com a gritaria das pessoas, e a indiferença (ou precaução?) com as provocações que ocorrem no metrô. Cada um na sua, terra de ninguém. Foi-se rapidamente a paz que havia conquistado a preço de ouro. Paciência, somos da confusão da metrópole. Vamos que vamos.
Digo estuprada porque o número de habitantes praticamente triplica, e isto provoca uma revolução profunda no "modus vivendi" da população local. Mudança violenta no consumo, alterando preços de produtos em proporções razoáveis, para equiparar aos preços dos grandes centros, afetando o orçamento de todos os moradores da cidade, que não tem nada com isso.
Alterações morais, porque a cultura pós industrial é voraz e amoral, enquanto a cultura de folk ali presente, é extremamente religiosa, com forte tradição (a Festa do Divino lá, que acompanhei por duas semanas, tem 144 anos - acreditem se quiserem), e conotações evangélicas recentes, mas com grande influência na população, tendo eleito o prefeito local, que conseguiu criar tal confusão na sua gestão que acabou por ter de mudar-se para São José dos Campos (não mora mais na própria cidade).
Lá os evangélicos pensavam que com uma liderança deles na prefeitura, "Ubatuba seria do Senhor Jesus". Agora, percebem, que eles são também como aqueles que eles criticavam, e que somos realmente muito parecidos, com acertos e falhas. Agora devem reiventar nova fórmula para justificar o assédio, ou porque não, a "idolatria" do poder.Entretanto, isto mostra a faceta de isolamento que aquela sociedade local tem.
Tudo isto se transforma nas temporadas, alterando significativamente a vida local; mas paradoxalmente, o turista traz receita para a cidade. Assim, é o caso de engulir as diferenças e fingir que nada está acontecendo, porque, ruim com eles, pior sem eles.
Por sinal, Julho é, vamos dizer assim uma baixa temporada, com menos turistas. A maior parte vai para Campos do Jordão, clima de serra, estas coisas, e o litoral fica relegado. Mas, para quem esteve em Ubatuba, como eu, foi a glória pois andei de bicicleta todos os dias. Vocês sabem o que é buscar pão de manhã, de bicicleta? E o silêncio da noite, na hora de me recolher, sem nenhum ruído escapando pelos vãos das nossas janelas urbanas? Até o meu cachorro ficou mais tranquilo, e olhe que é um pitbull. Ainda existe um Brasil preservado e graças a Deus, esquecido neste emaranhado de gente, perdão, pessoas. Gente é o que Fernando Pessoa procurava.
Durante toda a temporada tive a sensação de que a cidade estava vazia. Entretanto, ao tomar o ônibus para voltar para Sampa, qual não foi minha surpresa ao defrontar-me com um baita congestionamento na Dutra. Perguntando, com estranheza ao motorista, o motivo de tal movimento, este disse-me que Ubatuba é uma cidade muito espalhada, que não fornece uma visão real de quantas pesoas estão por lá. Concordei. Já não cabe mais gente em lugar nenhum. São Paulo sai de feriado, e não esvazia mais, esta é a verdade.
Em minha memória, lembro-me do falecido General Zerbini, meu padrinho de casamento, que dizia ter montado tocaia com duas metralhadoras, na entrada do pequeno porto de Ubatuba, e assim ter frustrado a entrada de tropas federais, quando da revolução de 32. Sabem quem estava com ele na ocasião? Seu colega Assis Brasil, que viera do Rio Grande do Sul para ajudá-lo. Tornou-e ministro da Guerra de Jango, e morreu pobre, fiel até o fim. Dizem que devolveu a aposentadoria a Castelo Branco.
Chegando em Sampa deparei-me novamente com a gritaria das pessoas, e a indiferença (ou precaução?) com as provocações que ocorrem no metrô. Cada um na sua, terra de ninguém. Foi-se rapidamente a paz que havia conquistado a preço de ouro. Paciência, somos da confusão da metrópole. Vamos que vamos.
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